SWAMI VIVEKANANDA
A MEDITAÇÃO E SEUS MÉTODOS
Editado por Swami Chetanananda
Prefácio por Christopher Isherwood
PREFÁCIO
"Se
a gente pudesse tê-lo conhecido!" - dizemos.
A
maioria de nós reconhece que poderia ser capaz de identificar um grande
instrutor espiritual se pudesse encontrar algum. Seria verdade? Provavelmente estamos nos
gabando. Contudo, deve-se concordar que um instrutor vivo é muito mais
preferível que seu livro morto. As meras
palavras impressas não podem carregar o tom de voz de quem as pronunciou e
muito menos o poder espiritual que se esconde atrás daquela voz.
Mas
Vivekananda é uma das raras exceções. Ao
ler suas palavras impressas, podemos captar algo do tom de sua voz e mesmo
experimentar algum sentido de contato com seu poder. Qual a razão disto?
Talvez
porque muitos desses ensinamentos eram originalmente falados, e não escritos
por ele. Tinham a informalidade e a
naturalidade do falar. Além disso,
Vivekananda fala uma linguagem que podemos entender, mas que é inimitavelmente
sua; o inglês de Vivekananda - aquele
idioma maravilhosamente forte, de frases pitorescas e explosivas exclamações. Ela recria sua personalidade para nós ainda
hoje, passados três quartos de um século.
O
que Swami Chetanananda fez aqui foi trazer Vivekananda em pessoa, para
ensinar-nos como meditar. Esses
resumidos extratos de suas obras completas dizem-nos o que é religião, porque é
de interesse vital para nós e como devemos praticá-la para torná-la parte de
nossas vidas. Não se apresse em ler este
livro de cabo a rabo. Escolha um extrato
e reflita sobre ele o dia inteiro, ou a semana inteira. Esses ensinamentos cabem em poucas palavras,
mas exigem intermináveis reflexões.
A
franqueza de Vivekananda é desconcertante.
Ele aponta seu dedo direto para você
- como o Tio Sam nos velhos
cartazes de recrutamento. Você não pode
fingir para si mesmo que ele está falando com qualquer outra pessoa. Ele se dirige a "você" e é melhor
que você ouça.
É
melhor que você escute, diz Vivekananda, porque você não sabe quem é. Você pensa que é o Sr. ou a Sra. Jones. É o seu erro fundamental e fatal. Sua opinião a respeito de si mesmo, seja
boa ou ruim, é também equivocada; mas isto é de importância secundária. Você pode andar pavoneando pela vida como o
Imperador Jones ou arrastar-se pelo chão como Jones, o escravo; não faz diferença. O Imperador Jones, se existisse tal criatura,
teria súditos; o escravo Jones teria um
capataz. Você não tem nem um nem
outro. Pois você é Brahman, o Deus
Eterno e, para qualquer lugar que olhe, você nada vê a não ser Brahman,
utilizando os muitos milhões de disfarces que são chamados por nomes tão
absurdos como o seu próprio - Jones, Juarez, Jinnah, Jung, Jocho, Janvier,
Jagataí, Jablochov; nomes que significam
todos a mesma coisa, "eu não sou você".
Você
não sabe quem é porque vive na ignorância.
Esta ignorância pode parecer agradável, em certos momentos mas,
essencialmente, é um estado de escravidão e, portanto, de sofrimento. Seu sofrimento deriva do fato de que Jones,
como Jones, tem de morrer - enquanto Brahman é eterno; e que Jones, como Jones, é diferente de
Juarez, Jinnah e todos os outros - enquanto Brahman, dentro de todos eles, é um
só. Jones, em sua ilusão de
separatividade, é atormentado por sentimentos de inveja, ódio ou medo em
relação a estes seres, aparentemente separados, ao seu redor. Ou, então, ele se sente atraído por alguns
deles por desejo ou amor e se atormenta por não poder possuí-los e unir-se
completamente a eles.
A
separatividade, diz Vivekananda, é uma ilusão
que pode e deve ser afastada pelo
amor do Brahman Eterno dentro de
nós e de todos os seres. Portanto, a
prática da religião é uma negação da separatividade e uma renúncia a seus
objetivos: fama, riqueza e poder sobre
os outros.
Eu
- o Sr. ou a Sra. Jones - sinto-me embaraçado com estas declarações. Trabalho para possuir bens e não quero abrir
mão deles. Sinto-me orgulhoso de ser
Jones e odiaria ser Jablochov; além
disso, suspeito que ele esteja planejando arrebatar meus bens de mim. E então eu não sou somente um Jones qualquer,
eu sou "o Jones", o famoso, e assim não estou inclinado a julgar-me
uma pessoa totalmente exposta e sem personalidade. Eu aprovo totalmente a palavra
"amor". Mas, para mim,
"amor" significa Jane ou John, e ela ou ele é a mais preciosa de
todas as minhas posses, nas quais só posso pensar em exclusiva relação para
comigo.
Por
outro lado, a prudência aconselha-me a não rejeitar o ensinamento de
Vivekananda. Meu próprio mal estar é uma
confirmação de que o que ele diz é, pelo menos em parte, verdadeiro. Fico tenso e deprimido quando penso no futuro. Meu médico receitou-me tranqüilizantes, mas
eles não me acalmam, somente fico zonzo e sonolento. Por que, então, não dedicar alguns minutos do
dia para essa meditação? É, realmente,
uma espécie de seguro de vida. Eu faço
seguro hospitalar na esperança supersticiosa de que ele me livrará de ter de ir
ao hospital. Por que não fazer o seguro
Vivekananda, na esperança de que livrará Jones de morrer e perder sua
identidade?
Isto
é bom, diz Vivekananda com um sorriso indulgente. De qualquer maneira comece - mesmo que for
por uma razão errada. Ele é de um bom
humor e de uma paciência inesgotáveis.
Nunca fica desesperado com a gente porque sabe - sabe com a extrema
certeza da experiência direta - que Brahman, nossa natureza real, nos atrairá
gradualmente até Ele:
Assim
não importam essas falhas, esses pequenos deslizes. Mantenha o ideal por mil vezes e, se você
falhar e, se você falhar mil vezes, faça mais um vez uma tentativa... Há uma vida infinita diante da alma. Vá com calma e cumprirá seu objetivo.
Isto
soa seguro demais, demasiadamente reconfortante. Será que ele está zombando de nós? Não e sim.
Ele quer dizer exatamente o que diz, mas fala nos termos da doutrina da
reencarnação. Quando ele nos diz que devemos
ir com calma, quer dizer que temos liberdade de ficar na escravidão da
ignorância por outros milhares de vidas;
liberdade para continuar morrendo e renascendo repetidamente até que nos
fartemos de nossa separatividade e fiquemos firmemente decididos a acabar com
ela. Se achamos que as palavras de
Vivekananda renovam nossa segurança - bem, seremos a própria piada.
Mas,
o que dizer a respeito desta vida?
Vivekananda observou certa vez:
Ao
tentar praticar a religião, oitenta por cento das pessoas são logradas e cerca
de quinze por cento enlouquecem; somente
os restantes cinco por cento alcançam o conhecimento imediato da Verdade
Infinita.
Isto
o choca? Se choca, imagine como você
reagiria se o instrutor de ginástica de uma academia lhe dissesse que "ao
praticar esses exercícios, oitenta por cento dos meus discípulos fracassam -
por não fazerem corretamente os difíceis exercícios - e que quinze por cento
fazem exercícios em excesso, como loucos, até que se machucam e têm que
desistir; somente os cinco por cento
restantes, realmente, transformam seus corpos físicos". Você ficaria surpreso? Certamente não, embora você pudesse ficar
deprimido. Você deveria decidir-se,
reconhecendo sua própria fraqueza, a não matricular-se na academia de forma
alguma.
Mas
não há desculpa mais miserável para a inação do que a justificativa de sermos
fracos, indignos, não espirituais.
Quando falamos isso, a voz de
Vivekananda ressoa como um trovão dizendo que somos leões e não ovelhas; que somos Brahman e não Jones. Então ele torna-se gentil de novo e nos diz
para fazer alguma coisa pelo menos, para fazer um pequeno esforço, mesmo se
formos idosos, doentes, sobrecarregados de dependentes e de deveres mundanos,
desesperadamente pobres ou desesperadamente ricos. Ele nos lembra que a verdadeira renúncia é
mental e não necessariamente física. Não
é necessário repudiarmos nossos maridos ou esposas e expulsarmos nossos filhos,
porta afora. Devemos somente compreender
que eles não são realmente nossos;
amá-los como moradas de Brahman, não como meros indivíduos. Devemos compreender que nossas assim chamadas
posses são simplesmente brinquedos que nos foram emprestados para brincarmos
com eles por breve tempo. Um colar de
contas pode ser bonito. Da mesma forma,
um colar de diamantes. Não há perigo em
usar o colar quando ignoramos sua diferença de preço.
Repetidamente,
Vivekananda nos faz rir, quando nos pede para não perdermos tempo em
arrependimentos, para não gemermos e soluçarmos sobre nossos pecados; quando nos pede para secarmos nossas lágrimas
e vermos como é engraçado este mundo de farsa que vimos encarando tão
seriamente. Assim, pelo menos por algum
tempo, ele nos enche de coragem.
Mas
Vivekananda não dedicou toda sua tremenda energia para estimular os noventa e
cinco por cento de coração fraco. Ele
precisava de auxiliares no seu trabalho - homens e mulheres dedicados, em quem
pudesse confiar - e não os procurava entre os fracos. De vez em quando, inesperadamente, no meio de
uma conferência, ele fazia um de seus emocionantes e ressoantes apelos aos
fortes, os ainda incorrompidos cinco por cento:
Homens
e mulheres de hoje! Se existir entre
vocês alguma flor pura e fresca, que seja colocada no altar de Deus. Se existir entre vocês alguns que, sendo
jovens, não queiram voltar para o mundo,
que o abandonem! Que renunciem! Este é o único segredo da espiritualidade, a
renúncia. Atrevam-se a fazer isso. Sejam bravos, o bastante, para faze-lo. São necessários esses grandes sacrifícios.
Vocês
não podem ver a maré de morte e materialismo que está rolando sobre essas
terras ocidentais? Vocês não podem ver o
poder da luxúria e da perversidade que devoram as forças vitais da
sociedade? Acreditem-me, vocês não
deterão estas coisas pela conversa ou por movimentos de agitação pedindo
reformas; mas somente pela renúncia,
ficando de pé, no meio da decadência e da morte, como montanhas de
retidão. Não falem, mas deixem o poder
da pureza, o poder da castidade, o poder da renúncia, emanar de cada poro de
seus corpos. Que este poder golpeie
aqueles que lutam noite e dia pelo ouro, pois mesmo no meio de tal estado de
coisas, poderá aparecer alguém para quem as riquezas perderão seu valor. Expulsem a luxúria e as riquezas. Sacrifiquem-se.
Mas
quem fará isto? Não os desgastados ou os
velhos, esgotados e fustigados pela sociedade, mas os mais novos e os melhores
da Terra, os fortes, os jovens, os belos.
Sacrifiquem suas vidas. Tornem-se
servos da humanidade. Sejam sermões
vivos. Isto é renúncia e não palavras
vazias.
Não
critique os outros, pois todas as doutrinas e dogmas são bons; mas mostre a eles, através de suas vidas, que
a religião não é assunto de livros e crenças, mas de realização
espiritual. Somente aqueles que a viram
compreenderão isto; mas tal
espiritualidade pode ser dada a outros, embora fiquem inconscientes desta
dádiva. Somente aqueles que atingiram
este poder se colocam entre os grandes instrutores da humanidade. Eles são os poderes da luz.
Quanto
mais um país produzir tais homens, mais alto se levantará. Aquela terra onde tais homens não existirem,
está amaldiçoada. Nada poderá salvá-la. Portanto, a mensagem de meu Mestre para o
mundo é: "Sejam todos seres
espirituais! Obtenham, primeiro, a
realização espiritual!" Vocês falaram
tanto do amor do homem, que está perigando de tornar-se, somente, uma
palavra. Chegou o tempo de agir. A ordem agora é: Faça!
Pule no buraco e salve o mundo!
Certa
vez, em minha vida, eu ouvi este desafio, da maneira mais simples
possível. Um grupo de pessoas se juntara
para discutir assuntos religiosos.
Muitos
dos presentes falaram extensamente e com eloqüência sobre Deus e a vida de
orações. Então, quando o último deles
terminou, um menino de catorze anos exclamou repentinamente, muito
excitado: "Mas, se tudo isto é verdade,
por que fazemos sempre coisas diferentes?"
A pergunta nos emudeceu.
Christopher Isherwood
Julho de 1974
PREFÁCIO DO EDITOR
Um
peixe, quando capturado pela rede do pescador e levado à praia, debate-se e
pula no chão seco; luta desesperadamente
para voltar à água, que é sua real morada.
Similarmente, o lar real do homem é Deus; ele se sente inquieto e desconsolado enquanto
se esquece de sua real natureza, que é divina.
A meditação é a ponte que liga o homem a Deus. Os métodos de meditação são muitos, mas seus
principal propósito é conseguir uma maneira de fugir da rede de Maya (a Ilusão Cósmica), a causa de todo
sofrimento, para trazer calma e paz à mente do homem.
Golpeado
pelas tensões, ansiedades, tentações e frustrações do mundo ao seu redor, e, ao
mesmo tempo, encontrando somente um grande vazio dentro de si, o homem hoje
está no meio de uma crise. É incapaz de
determinar quais são os últimos valores da vida. O que ele realmente busca - talvez sem o
saber - é liberdade, alegria, equilíbrio e paz interiores. Como pode conseguir isto? Meditação é a resposta.
Instruções
específicas para a prática da meditação não podem ser retiradas de nenhum
livro; antes, elas devem ser obtidas
de um instrutor qualificado e
ensinadas de acordo com o temperamento e o avanço espiritual do discípulo. Não obstante, as palavras de uma grande alma
têm um poder duradouro e, com estas palavras de Swami Vivekananda, a gente pode
não somente familiarizar-se com os princípios gerais de meditação, mas também
reunir inspiração e força para buscar a divindade que está em nosso interior. Ao se ler estas seleções das preleções,
escritos e conversas de Swami Vivekananda, torna-se evidente que ele ensinava
com autoridade e não meramente como um erudito. Pois ele próprio mergulhara nas profundezas
da realização que pregava.
O
livro foi dividido em duas seções:
"Meditação conforme a Ioga" e "Meditação conforme a
Vedanta". A primeira parte reflete
a prática e mística abordagem da meditação.
A segunda é uma mais filosófica e transcendental aproximação. Ambos os caminhos, no entanto, enfatizam ser
a meditação o supremo meio de alcançar a iluminação e ambas direcionam o
aspirante para a mesma meta.
Escolhemos
um título para cada seleção e definições para alguns termos em sânscrito menos
familiares foram dadas, entre parêntesis, no corpo do texto.
Também
para ajudar na clareza e na leitura, ocasionalmente cortamos uma ou mais
sentenças ou frases introdutórias e modernizamos a pontuação, sem fazermos
indicação das supressões ou variações do original. Contudo, uma referência ao volume e número da
página das "Obras Completas de Swami Vivekananda" é dada para cada
seleção e uma referência para cada volume e sua edição pode ser encontrada na
última página do livro. Finalmente, ao
escolher estes extratos, incluímos não somente as instruções de Swami
Vivekananda sobre meditação, mas também algumas descrições de suas próprias
experiências, juntamente com antigas estórias que ele contou e várias de suas
conversas registradas, afim de dar idéia da rica variedade de seus
ensinamentos.
Somos
gratos ao Advaita Ashrama, de Mayavati, Himalaia, por nos dar permissão de
reproduzir estas seleções das "Obras Completas de Swami
Vivekananda". Ao concluir, queremos
expressar nossa gratidão a Christopher Isherwood por ter escrito o Prefácio.
VISLUMBRES DE SWAMI VIVEKANANDA
"Você
vê uma luz quando adormece?"
"Sim,
vejo. Todo mundo não vê
também?". A voz do menino
demonstrava admiração.
Foi
logo após seu primeiro encontro que Sri Ramakrishna fez esta pergunta a
Narendra e sua resposta propiciou ao Mestre uma profunda visão sobre o passado,
a natureza e o destino deste jovem notável, que mais tarde seria Swami
Vivekananda. Em seus derradeiros anos,
ele próprio descreveu essa faculdade supranormal: "Desde meus tempos de criancinha, eu
costumava ver um maravilhoso ponto luminoso entre minhas sobrancelhas, quando
fechava meus olhos para dormir e acompanhava suas várias modificações com
grande atenção. Aquele maravilhoso ponto
de luz cambiava de cores e aumentava até assumir a forma de uma bola; finalmente ela explodia e cobria meu corpo,
da cabeça aos pés, com uma branca luz líquida.
Logo que isto acontecia, eu perdia a consciência exterior e
adormecia. Eu acreditava que era assim
que todo mundo começava a dormir. Então,
quando cresci e comecei a meditar, aquele ponto de luz aparecia para mim tão
logo eu fechava meus olhos e eu concentrava-me nele."
A
história da vida de Swami Vivekananda é a de um ser fenomenal. Ele era o tipo ideal de iogue e monge, de
instrutor e líder, de místico e asceta, de trabalhador e filósofo. Era capaz de alcançar o mais elevado estado
de devoção, embora possuído do mais alto conhecimento. Era um dedicado humanista, um músico e orador
por excelência, um atleta consumado. Em
Vivekananda temos um vislumbre do homem perfeito. Seu guru, Sri Ramakrishna, disse a seu
respeito: "Narendra é uma grande
alma - perfeito na meditação. Com a
espada do conhecimento, ele despedaça os véus de maya. A inescrutável ilusão (maya)
nunca poderá subjugá-lo."
A
verdadeira natureza desse discípulo excepcional foi revelada a Sri Ramakrishna
numa visão mesmo antes de terem seu primeiro encontro. Vivekananda era um sábio antigo, imerso em
profundo samadhi (consciência
transcendental), imóvel como uma rocha.
Sri Ramakrishna, o mestre do samadhi, despertou aquele ser divino de sua
meditação, dando, por assim dizer, um violento empurrão naquela rocha,
encaminhando sua trajetória, pelo mundo, a irradiar espiritualidade e a
destruir a mesquinhez e a ignorância onde quer que fosse.
Com
referência às visões que tivera a respeito de Narendra disse Sri Ramakrishna a
seus discípulos: "Certo dia
verifiquei que minha mente pairava no samadhi ao longo de uma luminosa
trajetória. Enquanto ela se elevava cada
vez mais alto eu divisava, às margens do caminho, as formas ideais de deuses e
deusas. A mente atingiu então os limites
extremos daquela região onde uma barreira de luz separava a esfera da
existência relativa da esfera do Absoluto.
Ao atravessar aquela barreira a mente penetrou no reino transcendental
em que nenhum ser corpóreo era visível.
Logo a seguir eu vi sete sábios veneráveis assentados, em samadhi. Passou-me pela mente que aqueles sábios
deveriam ter ultrapassado não somente os homens mas mesmo os deuses em
conhecimento e santidade, em renúncia e amor.
Perdido em admiração, eu refletia sobre sua grandeza quando vi uma
parcela daquela região luminosa indiferenciada condensar-se na forma de uma
criança divina. A criança veio até um
dos sábios, tocou terna e delicadamente em sua nuca e, dirigindo-se a ele com
voz suave, tentou arrancar sua mente do estado de samadhi. Este toque mágico despertou o sábio de seu
estado super consciente e este então fixou seus olhos entreabertos na criança
maravilhosa. Com grande alegria a
estranha criança falou-lhe: "Eu
estou descendo. Você também deve vir
comigo." O sábio permaneceu mudo,
mas seu olhar terno expressou seu assentimento.
Tão logo vi Narendra, reconheci que ele era aquele sábio. Mais tarde Ramakrishna revelou que aquela
divina criança era ele próprio. Vivekananda nasceu em 12 de janeiro de 1863 em
Calcutá. Desde o começo era uma criança
precoce de energia excepcional. Todavia,
sua tendência inata para a meditação revelou-se na infância. Pois, juntamente com os folguedos comuns da
infância, ele brincava de meditar.
Certa
vez Narendra meditava com seus amigos quando uma cobra apareceu. Os outros meninos ficaram horrorizados e,
advertindo a Narendra com um grito, saíram correndo. Mas Narendra permaneceu imóvel e a cobra,
depois de algum tempo, foi embora. Mais
tarde, ele disse a seus pais: "Eu
ignorava a cobra ou qualquer outra coisa.
Estava sentindo uma alegria inexprimível."
Aos
quinze anos de idade experimentou o êxtase espiritual. Viajava com sua família a Raipur na Índia
Central e parte da viagem tinha de ser feita em carro de boi. Naquele dia especial o ar estava seco e
claro, as árvores e as trepadeiras cheias de flores e pássaros de brilhante
plumagem cantavam na floresta. O veículo
movia-se através de uma estreita passagem em que picos altaneiros, elevando-se
dos dois lados, quase se tocavam.
Narendra bateu os olhos numa grande colmeia, numa fenda de um penhasco
gigante, que ali deveria existir há muito tempo. De súbito, sua mente inundou-se de pasmo e
reverência pela Divina Providência e ele perdeu sua consciência exterior. Talvez tenha sido esta a primeira vez que sua
poderosa imaginação o ajudou a elevar-se ao reino da superconsciência.
Certa
vez, em seus dias de estudante, Vivekananda teve uma visão de Budda conforme
narrou: "Quando estava na escola
uma vez eu meditava a portas fechadas e conseguia uma razoável concentração de
pensamento. Há quanto tempo meditava
daquele jeito, eu não saberia dizer. A
meditação já terminara e eu ainda continuava sentado, quando, da parede do
quarto que dava para o sul, saiu uma figura luminosa que ficou na minha frente. Era a figura de um Sannyasin (monge)
absolutamente calmo, com a cabeça raspada, tendo um cajado e um Kamandalu (moringa) em cada mão.
Ele olhou-me fixamente por algum tempo e parecia querer dirigir-se a
mim. Eu, também, observei-o atentamente
com muda estupefação. Subitamente, uma
espécie de medo apossou-se de mim. Abri
a porta e saí correndo do quarto. Então,
ocorreu-me que era tolice minha correr assim, pois talvez ele quisesse dizer-me
algo. Mas eu nunca mais vi aquela
figura. Creio que tenha sido o Senhor
Buda que eu vi."
Em
um de seus primeiro encontros Sri Ramakrishna deu em Vivekananda o toque mágico
que baniu a dualidade de sua mente e deu-lhe um sabor da consciência
transcendental. Geralmente o guru ajuda
seu discípulo a alcançar o samadhi como o objetivo da vida. Mas o guru de Swami Vivekananda esperava
muito mais de seu discípulo. Sri
Ramakrishna realmente censurava Vivekananda por querer permanecer imerso em
samadhi por três ou quatro dias seguidamente, interrompendo-o somente para
alimentar-se. "Que vergonha! Você ansiar por coisa tão
insignificante! Eu queria que você fosse
como uma grande figueira e que milhares de pessoas repousassem à sua
sombra. Mas vejo, agora, que você só
busca sua própria libertação".
Assim repreendido, Vivekananda chorava ao descobrir a grandeza do coração
de Sri Ramakrishna.
Na
quinta de Cossipore, Vivekananda experimentou o nirvikalpa samadhi - a suprema
realização da Vedanta e da Yoga. Certa
noite, enquanto meditava com o Gopal mais velho, um irmão discípulo, ele sentiu
como se uma luz estivesse posicionada atrás de sua cabeça. Esta luz tornou-se cada vez mais intensa e
ele então ultrapassou toda a relatividade e perdeu-se no Absoluto. Ao recobrar um pouco da consciência do mundo,
sentia somente sua cabeça, mas não sentia o resto de seu corpo. Ele exclamou:
"Gopal, onde está o meu corpo?". "Ele está aqui, Naren", respondeu
Gopal, tentando convencê-lo. Mas, não o conseguindo,
Gopal ficou horrorizado e apressou-se em informar a Sri Ramakrishna que disse
somente: "Deixe-o ficar nesse
estado por um tempo! Ele amolou-me
bastante para consegui-lo."
Depois
de longo tempo Vivekananda voltou à sua consciência normal. Uma paz e alegria inefáveis encheram sua
mente e seu coração. Ele veio até o
Mestre que lhe disse: "Agora, a
Divina Mãe mostrou-lhe tudo. Mas sua
realização será trancada agora e a chave ficará comigo. Quando você tiver acabado de fazer o trabalho
da Mãe, este tesouro será novamente seu."
Outro
episódio interessante deste período foi contado por Girish Chandra Gosh, um
chefe de família discípulo de Sri Ramakrishna.
Um dia, Vivekananda e Girish sentaram-se debaixo duma árvore para
meditar. Havia tantos mosquitos a
perturbar, que Girish ficou muito agitado.
Ao abrir os olhos, ficou espantado ao ver que o corpo de Vivekananda
estava como que coberto por escura manta, tal era o número de mosquitos nele
pousados. Mas ele estava totalmente
inconsciente da presença deles e não tinha nenhuma lembrança deles ao voltar à
consciência normal.
Depois
do falecimento de Sri Ramakrishna, Vivekananda viajou através da índia toda
como um monge itinerante. Ele queria
encontrar um lugar bem isolado onde pudesse viver sozinho, absorto na
contemplação de Deus. Nessa época, guiavam-no
as palavras de Buddha: "Sereno como
o leão, que não treme com os ruídos;
sereno como o vento, que não pode ser apanhado por uma rede; sereno como a folha de lótus, intocada pela
água - assim tu deves andar solitário como o rinoceronte!" Mas a Providência Divina tinha outros plano
para ele e Vivekananda não podia escapar ao seu destino. Como
escreveria mais tarde. "Nada
em minha vida preocupava-me mais que a noção do trabalho a ser feito. Era como se eu tivesse sido arrancado daquela
vida em cavernas, para perambular pelas planícies abaixo."
Certo
dia, durante suas viagens nos Himalaias, ele assentou-se para meditar sob uma
árvore, ao lado de um
regato. Lá veio
a conhecer a unidade entre o universo e o homem e que o homem é um
universo em miniatura. Verificou que tudo
que existe no
universo existe também no corpo e, ademais, que todo o universo pode
estar contido num simples átomo. Ele
registrou essa experiência em suas anotações e disse a seu irmão-discípulo e
companheiro, Swami Akhandananda:
"Encontrei hoje a solução de um dos mais difíceis problemas da
vida. Foi-me revelado que o macrocosmo e
o microcosmo são guiados pelo mesmo princípio."
Em
31 de maio de 1893 Vivekananda partiu para Chicago para participar do Congresso
das Religiões como representante do Hinduismo.
Mas sua mensagem foi tão universal que um observador comentou: "Vivekananda foi o representante de
todas as religiões do mundo."
Proclamou a suprema mensagem do Vedanta:
"Vós sois os filhos de Deus, os compartilhadores da Bem-aventurança
Imortal, seres perfeitos e santificados. Vós sois divindades na Terra - pecadores! É um pecado denominar assim a um homem; é um permanente libelo contra a natureza
humana."
Durante
os três anos seguintes viajou intensivamente pelos Estados Unidos e por muitos
países da Europa. Contudo, a ativa vida
do Ocidente não conseguia perturbar sua meditação. Em Vivekananda encontramos as duas correntes
opostas da ação e meditação fluindo harmoniosamente, nunca uma interferindo com
a outra.
Estando
quase exausto pelo trabalho ininterrupto de conferências públicas e aulas, no
início de junho de 1895, o Swami aceitou um convite de Mr. Francis Legget para
ir a Percy, New Hampshire, para um período de descanso no silêncio das
florestas de pinheiros. Também lá ele experimentou
o nirvikalpa samadhi. Em 7 de julho de
1895, de Percy, ele escreveu a Mrs. Ole Bull:
"Este
é um dos locais mais belos que já vi.
Imagine um lago rodeado de colinas cobertas por imensa floresta, com
mais ninguém além da gente. É tudo tão
agradável, tão quieto, tão repousante, que você pode imaginar como estou alegre
de estar aqui depois da agitação das cidades.
Estar
aqui dá-me um novo alento de vida. Vou
sozinho à floresta, leio o meu Gita e fico totalmente feliz. Vou deixar este lugar dentro de dez dias e
vou a Thousand Island Park. Lá vou
meditar continuamente e ficarei só comigo mesmo. A própria idéia disso me enobrece."
Na
arte e arquitetura da Índia, o estado de realização ou de iluminação suprema,
tem sido representado na forma meditativa de Buddha, o Iluminado. Este mesmo ideal elevado pode ser encontrado
em Swami Vivekananda, nas memórias de Mrs. Mary Funke, que foi uma de suas
discípulas: "O último dia (em Thousand Island Park) foi muito
maravilhoso e precioso. Convidou
Cristina e a mim para um passeio, pois queria estar a sós conosco. Subimos uma colina distante cerca de meia
milha. Só havia floresta e solidão. Finalmente, ele escolheu uma árvore com
galhos baixos e assentamo-nos sob seus ramos agasalhadores. Em vez da esperada palestra ele, subitamente,
disse: "Vamos meditar agora. Ficaremos como Buddha debaixo da árvore de
Bodhi." Tão quieto ficou ele que
parecia transformado em estátua de bronze.
Adveio então uma tempestade e choveu muito. Ele nunca soube disso. Abri meu guarda-chuva e o protegi tanto
quanto possível. Completamente absorto
em sua meditação, fazia abstração de tudo.
Logo ouvimos gritos distantes. Os
outros vinham à nossa procura com capas e guarda-chuvas. Swamiji olhou em volta, com mágoa, pois
tínhamos de ir embora, e disse:
"Mais uma vez estou em Calcutá sob a chuva."
Não
se deve esquecer que Vivekananda, como dissera Sri Ramakrishna, não era um
homem comum, mas um nitya-siddha, aquele que nasce perfeito, um Ishvarakoti ou
mensageiro especial de Deus, nascido na Terra para cumprir uma missão
divina. Vivekananda disse: "Eu inspirarei os homens pelo mundo
afora até que eles saibam que são unificados com Deus." Durante toda sua
vida ele praticou tanto a concentração que ela se tornou parte de si mesmo. No
Ocidente tinha de controlar esse hábito
precioso. Sister Nivedita diz-nos: "Certa ocasião, ao ensinar a uma turma
de Nova Iorque a meditar, aconteceu que, no final da aula, não conseguiram
traze-lo de volta à consciência normal e, um a um, os estudantes retiraram-se
silenciosamente. Mas ele ficou profundamente mortificado quando soube o que
aconteceu e nunca arriscou-se a que isto se repetisse. Ao meditar, privadamente, com uma ou duas
pessoas, ele informava qual a palavra com que poderia ser despertado."
Quando
estava em Camp Irving, na Califórnia do Norte, certa manhã o Swami encontrou
Shanti (Mrs. Hansborough) na cozinha, a
preparar comida, na hora dele dar sua aula matinal. "Você não vem meditar?",
perguntou. Chanti respondeu que, como
tinha se esquecido de programar adequadamente seus trabalhos, teria de ficar na
cozinha. Swamiji disse: "Bem, não faz mal. Nosso Mestre disse que se poderia deixar de
meditar se se fosse prestar serviço.
Tudo bem, vou meditar por você."
Shanti disse mais tarde:
"Enquanto durou a aula eu senti que, realmente, ele estava
meditando por mim."
Ao
aproximar-se o fim de sua missão e vida terrenas, Vivekananda certificava-se
cada vez mais claramente que este mundo não é senão um teatro. Seus olhos abriam-se cada vez mais à luz do
outro mundo, sua verdadeira morada. E
soube explorar de maneira vivida e tocante sua ânsia de retornar a ele, em sua
carta de 19 de abril de 1900, escrita da Califórnia a Miss Josephine MacLeod,
sua sempre leal "Joe":
"O
trabalho é sempre difícil. Reze por mim,
Joe, a fim de que meu trabalho cesse para sempre e minha alma se absorva na
Mãe. Ela conhece o Seu trabalho.
Eu
estou bem, muito bem mentalmente. Sinto
mais o descanso da alma que o do corpo.
As batalhas são perdidas e vencidas.
Arrumei minhas coisas e estou esperando pela Grande Libertadora.
Siva,
ó Siva, leve meu barco para a outra margem!
Afinal
de contas, Joe, eu sou somente o menino que costumava ouvir arrebatado e
embevecido as palavras maravilhosas de Sri Ramakrishna sob a figueira de
Dakshineswar. Esta é minha verdadeira
natureza - os trabalhos e atividades, o fazer o bem e assim por diante, são
simples superimposições. Agora, eu ouço
de novo sua voz, a mesma velha voz que eletriza minha alma. Os grilhões estão se quebrando - o amor
morrendo, o trabalho tornando-se insípido - o encanto da vida
extinguindo-se. Agora, tão somente a voz
do Mestre chamando. - Estou chegando, Senhor, estou chegando. - Que
os mortos enterrem os mortos. Que você
Me siga.
Sim,
estou chegando. O Nirvana está diante de
mim. Sinto-o às vezes, o mesmo oceano
infinito de paz, sem uma onda, sem uma brisa.
Oh,
é tão tranqüilo!"
Sri
Ramakrishna tinha profetizado que Narendra mergulharia em nirvikalpa samadhi no
fim de seu trabalho, quando viesse a saber quem e o que realmente era. Um dia, em Belur Math, quando um irmão
discípulo casualmente perguntou-lhe:
"O senhor já sabe quem é, Swamiji?" ficou emudecido de espanto pela inesperada
resposta: "Sim, agora eu sei."
A
saída de Vivekananda do mundo foi tão maravilhosa quanto sua entrada. Depois de consultar um almanaque, ele
escolheu uma data auspiciosa para encerrar seu drama. Foi o dia 4 de julho de 1902. Meditou durante três horas pela manhã, deu
uma aula de gramática do sânscrito e de filosofia vedântica aos jovens monges à
tarde, após o que deu um longo passeio com um de seus irmãos discípulos.
Sister
Nivedita deixou-nos um relato dos últimos momentos de sua vida: "Ao voltar do passeio, o sino soava as
vésperas e ele dirigiu-se ao seu quarto e assentou-se para meditar, voltado
para o Ganges. Era pela última vez. Então, nas asas dessa meditação, seu espírito
voou para o lugar de onde não haveria retorno e o corpo foi deixado, como uma
veste dobrada, sobre a Terra.
As
últimas palavras de Swami Vivekananda, dirigidas a um discípulo monástico que o
servia, foram: "Medite e espere até
que o chame."
S.C.
Sociedade Vedanta do Sul da
Califórnia
Aniversário de Vivekananda
14 de janeiro de 1974
MEDITAÇÃO DE ACORDO COM A IOGA
O
pensar em objetos dos sentidos
Fará
com que você se apegue a eles.
Fique
apegado e tornar-se-á viciado;
Impeça
os seus vícios e ficará colérico;
Fique
irado e sua mente tornar-se-á confusa;
Conturbe
sua mente e esquecerá a lição da experiência;
Esqueça
a experiência e perderá o discernimento;
Perca
o discernimento e perderá o único objetivo da vida.
A
mente descontrolada
Não
percebe que o Atman está presente:
Como
pode ela meditar?
Sem
a meditação, onde estará a paz?
Sem
paz, onde estará a felicidade?
(Bhagavad
Gita, II.62,63,65)
O QUE É MEDITAÇÃO
O
que é meditação? Meditação é o poder que
nos torna capazes de resistir a tudo. A
Natureza pode nos dizer: "Olhe, que
coisa maravilhosa!" E eu não
olho. Então, ela diz: "Que belo aroma! Sinta-o!" Eu digo ao meu nariz: "Não o cheire" e o nariz me
obedece. "Olhos, não
vejam!". A Natureza faz uma coisa
terrível - mata um de meus filhos e diz:
"Agora, patife, sente-se e chore!
Caia no buraco!
Afunde!" Eu respondo:
"Não farei isso." Eu me
ergo. Devo libertar-me. Experimente fazer isso algumas vezes. Na meditação, por um momento, você pode
modificar seu modo de ser. Agora, se
você tem aquele poder dentro de si mesmo, não seria isto o céu, a
liberdade? Este é o poder da meditação.
Como
alcançá-lo? De doze maneiras
diferentes. Cada temperamento tem sua
própria maneira. Mas este é o princípio
geral: domine sua mente. A mente é como um lago e cada pedra que nele
cai provoca ondas. Essas ondas não
permitem que nos vejamos como somos. A
lua cheia se reflete sobre a água do lago, mas a superfície está tão agitada
que não vemos claramente seu reflexo.
Fique calmo. Não deixe sua
natureza provocar as ondas. Fique quieto
e então, passado certo tempo, ela desistirá.
E, então, saberemos o que realmente somos. Deus lá está presente, mas a mente é tão
agitada, sempre a perseguir os sentidos...
Você isola os sentidos e, mesmo assim, sua mente continua a girar, a
rodar. Num dado momento sinto-me bem e
resolvo meditar em Deus e então minha mente viaja para Londres, num
minuto. E se consigo retirá-la de lá,
ela voa para Nova York, para pensar nas coisas que fiz lá, no passado. Essas ondas devem ser detidas pelo poder da
meditação. (IV, 248)
A PORTA PARA A BEATITUDE
A
meditação é a porta que abre aquela alegria infinita para nós. As preces, os cerimoniais e outras formas de
culto são simplesmente os jardins de infância da meditação. Você ora, você oferece algo. Existiu uma certa teoria de que tudo
levantava o nosso poder espiritual. O
uso de certas palavras, flores, imagens, templos e de cerimoniais como o
oscilar de luzes, leva a mente a essa atitude, mas esta atitude reside sempre
na alma humana, e em nenhum outro lugar.
Todas as pessoas estão fazendo isso;
mas o que elas fazem sem o saber, faça-o conscientemente. Este é poder da meditação.
Lenta
e gradualmente devemos praticar isto.
Não é uma brincadeira - não é coisa para um dia, para anos ou talvez
para renascimentos. Mas não faz mal! O impulso deve continuar. Conscientemente, voluntariamente, o impulso
deve prosseguir. Ganharemos terreno,
polegada a polegada. Começaremos a
sentir e a obter posses reais que ninguém poderá tirar de nós - a riqueza que
homem algum pode tomar, a riqueza que ninguém pode destruir, a alegria que
nenhum sofrimento jamais poderá afetar.
(IV. 249, 248)
EM BUSCA DA VERDADE
Ioga
é a ciência que nos ensina como conseguir estas percepções (experiências diretas de Deus). Não adianta muito falar sobre religião a
menos que as tenhamos sentido. Porque há
tantos distúrbios, tantas disputas e discussões em nome de Deus? Já houve mais derramamento de sangue em nome
de Deus do que por qualquer outro motivo, porque as pessoas nunca foram às
nascentes; elas se contentaram somente
em concordar mentalmente com os costumes de seus ancestrais e em querer que os
outros fizessem o mesmo. Que direito tem
o homem de dizer que tem uma alma se não a
sente ou de que existe Deus se ele não O vê? Se Deus existe devemos vê-lo, se existe alma
devemos percebê-la; do contrário, é
melhor não acreditar. É melhor ser um
ateu declarado do que um hipócrita.
O
homem deseja a verdade, quer experimentar a verdade por si mesmo; quando ele a agarrou, realizou-a, sentiu-a no
íntimo de seu coração, somente então, segundo os Vedas, todas as dúvidas se
dissipam, toda a escuridão é afastada e todos os aleijões são corrigidos. (I. 127-28)
COMO É INQUIETA A MENTE!
Como
é difícil controlar a mente! Ela já foi
comparada a um macaco enlouquecido.
Havia um macaco, agitado por natureza própria, como são todos os
macacos. Como se isso não bastasse, alguém deu-lhe muito vinho a beber e assim
ele ficou ainda mais agitado. Foi então
picado por um escorpião. Quando um homem
é picado por escorpião, ele pula durante um dia inteiro; assim, o pobre macaco ficou pior do que
nunca.
Para
completar sua desgraça, um demônio se apossou dele. Que palavras podem descrever a incontrolável
agitação daquele macaco? A mente humana
é como aquele macaco, incessantemente ativa por sua própria natureza; então, ela fica embriagada com o vinho do
desejo, aumentando assim sua turbulência.
Depois do desejo tomar posse, vem o ferrão do escorpião do ciúme pelo
sucesso dos outros e, finalmente, o demônio do orgulho entra na mente, fazendo
com que ela se julgue ser muito importante.
Como é difícil controlar tal mente!
(I. 174)
UMA TREMENDA TAREFA
De
acordo com os Iogues, há três principais correntes nervosas: uma é chamada Ida, a outra Pingala, e a do
meio Sushumna e todas ficam dentro da coluna espinhal. Ida e Pingala, à esquerda e à direita, são
feixes de nervos, enquanto a do meio, Sushumna, é oca e não é um feixe de nervos. Sushumna está fechada e para o homem comum
não tem uso, pois ele utiliza somente Ida e Pingala. Correntes, constantemente, fluem através
desses nervos, transportando ordens por todo o corpo, através de outros nervos
que correm por diferentes órgãos do corpo.
A
tarefa diante de nós é vasta; em primeiro lugar e principalmente, devemos
procurar controlar a enorme massa de pensamentos submersos que se tornaram
automáticos em nós. A má ação está, sem
dúvida, no plano consciente; mas a causa
que produziu a má ação está muito além no reino do inconsciente, oculta, e, por
isso, mais poderosa.
Esta
é a primeira parte do estudo, o controle do inconsciente. A próxima é ir além do consciente (o estado
de vigília). Vemos, assim, que deve
haver um trabalho duplo. Primeiro, pelo
adequado trabalho de Ida e Pingala, que são as duas correntes comuns
existentes; e, em segundo lugar, para
ultrapassar a consciência superficial.
Aquele
que, depois de longa prática de auto-concentração, alcançou esta verdade, pode
ser chamado Iogue. Então Sushumna se
abre e uma corrente que nunca antes entrou nessa nova passagem irá circular por
ela e, gradualmente, ascenderá (o que dizemos em linguagem figurada) aos
diferentes centros do loto, até atingir o cérebro. Então o Iogue torna-se consciente de que é
realmente, o próprio Deus. (II. 30,
34-36)
O AMBIENTE PARA MEDITAÇÃO
Para
aqueles que têm essa possibilidade, será melhor ter um quarto só para esta
prática. Não durma neste quarto, ele
deve ser mantido como sagrado. Você não
deve entrar no quarto antes de tomar seu banho e sem estar perfeitamente limpo
de corpo e mente. Coloque sempre flores
nesse quarto; elas são o melhor ambiente
para um Iogue; e também quadros que
sejam belos. Queime incenso pela manhã e
à tarde. Não discuta, não se irrite, nem
tenha pensamentos impuros nesse quarto.
Permita que somente entrem nesse
quarto pessoas que pensem como você.
Assim, gradualmente, haverá uma atmosfera de santidade no quarto e,
quando você estiver infeliz, magoado, cheio de dúvidas ou sua mente estiver
perturbada, o mero fato de entrar naquele quarto o tornará tranqüilo. Esta era a idéia do templo e da igreja e, em
alguns templos e igrejas, você encontrará isso mesmo agora, mas, na maioria
deles, essa idéia se perdeu. A idéia é
de que, mantendo-se vibrações puras, o lugar torna-se e permanece cheio de
luz. Aqueles que não tiverem a
possibilidade de ter um quarto isolado, poderão meditar onde gostarem. (I. 145)
REQUISITOS PARA A MEDITAÇÃO
Onde
houver fogo, em água ou chão coberto de folhas secas, onde houver muitos
cupins, onde houver animais ferozes ou perigo, onde quatro ruas cruzarem, onde
houver muito barulho, onde muitas pessoas más se reunirem, a Ioga não deve ser
praticada. Isto se aplica mais
particularmente à Índia. Não faça esta
prática quando estiver doente ou com muita preguiça ou quando a mente estiver
muito infeliz ou magoada. Vá a um lugar
bem escondido, onde as pessoas não forem perturbá-lo. Não escolha lugares sujos. Pelo contrário, escolha um belo cenário ou um
quarto em sua própria casa que seja bonito.
Quando praticar, primeiramente faça saudação a todos os antigos Iogues,
a seu próprio Guru e Deus e, então, comece.
(I. 192)
A HORA DE MEDITAR
Você
deve praticar pelo menos duas vezes por dia, e a melhor ocasião é pela manhã e
à tarde. Quando a noite se transforma em
dia e o dia em noite, segue-se uma fase de
relativa calma. De manhã bem cedo
e à tardinha são os dois períodos de tranqüilidade. Seu corpo terá uma igual tendência de se
acalmar nessa hora. Devemos
aproveitar essa condição
natural e começar a prática.
Adote como regra não comer antes de ter praticado; se fizer isso, a aguda força da fome quebrará
sua preguiça. Na Índia ensinam as
crianças a não comerem antes de terem meditado ou feito adoração e isto
torna-se natural para elas, com o decorrer do tempo; um menino não sentirá fome antes de se banhar
e praticar. (I. 144-45)
OREM, AGORA!
Repitam
mentalmente:
Sejam
felizes todos os seres;
Vivam
em paz todos os seres;
Sejam
abençoados todos os seres.
Façam
isso dirigindo-se ao leste, ao sul, ao norte e a oeste. Quanto mais fizerem isso, melhor se sentirão.
Vocês
irão verificar que o modo mais fácil de terem saúde é desejarem que os outros
se tornem saudáveis, e o meio mais fácil de se sentirem felizes é fazerem os
outros felizes. Depois de fazer isto,
aqueles que acreditam em Deus deverão rezar - não por dinheiro, não para sua
própria saúde, não pelo céu; orem pela
luz e pelo conhecimento; qualquer outra
prece é egoística. (I. 145-146)
A PRIMEIRA LIÇÃO
Assente-se
por algum tempo e deixe a mente atuar.
Simplesmente espere e observe. O
conhecimento é poder, diz o provérbio, o que é verdade. Até que você saiba o que a mente está
fazendo, você não poderá controlá-la.
Solte as rédeas; muitos
pensamentos sujos poderão aflorar; você
ficará espantado como foi possível ter tais pensamentos. Mas verificará que a cada dia as
extravagâncias da mente se tornarão cada vez menos fortes e a cada dia ela se
tornará mais calma.
Desista
de toda argumentação e de outras confusões.
Existe
algo na árida tagarelice intelectual?
Ela somente desequilibra e perturba a mente. As coisas dos planos mais sutis devem ser
sentidas. Tagarelar fará isso? Assim, elimine toda conversa vã. Leia somente aqueles livros que foram escritos
por pessoas que atingiram a realização.
(I. 174, 176-77)
AGORA, PENSE!
Pense
em seu próprio corpo e faça com que seja forte e sadio; é o melhor instrumento que você tem. Pense nele como sendo tão forte como um
diamante e que, com o auxílio dele, você atravessará o oceano da vida. A liberdade nunca será alcançada pelos
fracos. Lance fora toda fraqueza. Diga a seu corpo que ele é forte, diga à sua
mente que ela é forte e tenha fé e esperança sem limites em você mesmo. (I. 146)
ALGUNS EXEMPLOS DE MEDITAÇÃO
Imagine
uma flor de lótus acima de sua cabeça, várias polegadas acima, com a virtude no
seu centro e com o conhecimento como caule.
As oito pétalas do lótus são os oito poderes do Iogue. Na parte interna, os estames e pistilos
representam a renúncia. Se o Iogue
renunciar aos poderes exteriores ele conseguirá a salvação. Assim, as oito pétalas da flor de lótus são
os oito poderes, mas os estames e os pistilos internos são a renúncia extrema,
a renúncia de todos estes poderes.
Dentro da flor de lótus imagine o Ser Dourado, o Todo Poderoso, o
Intangível, Aquele cujo nome é Om, o Inexprimível, rodeado por refulgente
luz. Medite nisto.
Outra
meditação é sugerida: Pense num espaço
em seu próprio coração e que nesse espaço uma chama está queimando. Pense nesta chama como sendo sua própria alma
e que dentro desta chama existe outra luz refulgente que é a Alma de sua alma,
Deus. Medite sobre isto, no seu próprio
coração. (I. 192-93)
COMO ATINGIR A META
Pratique
arduamente; se você viver ou morrer,
isso não importa. Você tem de mergulhar
e trabalhar, sem pensar no resultado. Se
você for bastante bravo, em seis meses será um perfeito Iogue. Mas aqueles que se aplicarem só um pouco
nisso, com mais um pouco de outras coisas mais, não farão nenhum
progresso. De nada adianta somente
seguir um curso de lições.
Para
ter êxito, você precisa de ter uma tremenda perseverança, uma tremenda
vontade. "Eu beberei o
oceano", diz a alma que persevera, "com minha vontade as montanhas
vão desmoronar." Tenha aquele tipo
de energia, aquele tipo de determinação, trabalhe duro e você atingirá a
meta. (I, 178)
SEJA CAUTELOSO!
Todo
movimento se dá em círculos. Se você
pegar uma pedra e a projetar no espaço e então viver o suficiente, essa pedra,
se não encontrar nenhum obstáculo, voltará exatamente para sua mão.
Assim,
como no caso da eletricidade a teoria moderna estabelece que a energia deixa o
dínamo e completa o círculo de volta ao dínamo, assim também acontece com o
ódio e o amor; eles devem retornar à
fonte. Portanto, não odeie a ninguém,
porque o ódio que emite deve, depois de um longo percurso, voltar novamente
para você. Se você ama, aquele amor virá
de volta para você, depois de completar o círculo. (I, 196)
O LAGO DA MENTE
Não
podemos ver o fundo do lago, pois sua superfície está coberta de
ondulações. Somente podemos ter um
relance de seu fundo, quando as ondas cedem e a água está calma. Se a água estiver barrenta ou agitada todo o
tempo, o fundo não será visto. Se
estiver límpida e se não houver ondulações, veremos o fundo. O fundo do lago é
o nosso Ser verdadeiro; o lago é Chitta
(o material da mente) e as ondas as Vrittis (ondas do pensamento).
A
mente tem três estados, um dos quais é sombrio, chamado Tamas, encontrado nos
brutos e nos idiotas; ele somente age
para prejudicar. Nenhuma outra idéia vem
àquele estado mental. Então há o estado
ativo da mente, Rajas, cuja motivação principal é o poder e o prazer. "Serei poderoso e mandarei nos
outros." Há, ainda, o estado
chamado Sattva, serenidade, calma, no qual as ondas cessam, e a água do lago da
mente torna-se límpida. (I., 242-43)
A MENTE E SEU CONTROLE
A
meditação é um dos grandes meios de controlar o surgimento dessas ondas de
pensamento. Pela meditação você pode
fazer com que a mente subjugue essas ondas e, se você prosseguir praticando a
meditação durante dias, meses e anos, até que ela se transforme em hábito, até
que ela aconteça sem você perceber, o rancor e o ódio serão controlados e
dominados. (I., 242-43)
SEJA ALEGRE!
O
primeiro sinal de que você está se tornando religioso é quando você está se
tornando alegre. Quando um homem está
tristonho, isto pode significar dispepsia mas não religião.
Para
o iogue tudo é bênção, toda face humana que vê traz alegria para ele. Este é o sinal de um homem virtuoso. O que você acha dos rostos sombrios? São terríveis. Se você estiver com a cara amarrada, não saia
nesse dia, encerre-se em seu quarto. Que
direito tem você de desfilar esta doença pelo mundo? (I., 264-65)
OS SINAIS DE UM IOGUE
"Aquele
que não odeia ninguém, que é amigo de todos, que se compadece de todos, que não
possui nada de seu, que está livre do egoísmo, que tem a mesma mente na dor e
no prazer, que sempre perdoa, que está sempre satisfeito, que trabalha sempre
na Ioga, cujo ser se tornou controlado, cuja vontade é firme, cuja mente e
intelecto foram dedicadas a Mim, este é Meu amado Bhakta (devoto).
Aquele que não incomoda a ninguém, que não pode ser perturbado pelos
outros, que é isento de alegria, raiva, medo e ansiedade, este é o meu
Amado. Aquele que não depende de nada,
que é puro e ativo, que não faz diferença se vem o bem ou o mal, e nunca fica
infeliz, que desistiu de todos esforços para si mesmo; aquele que é o mesmo no elogio ou na censura,
dotado de mente silenciosa e pensativa, abençoado pelo pouco que possa receber
em seu caminho, sem lar, pois o mundo todo é seu lar e que é firme em seus ideais,
tal homem é o Meu amado Bhakta." Estes,
somente, tornam-se iogues. (I., 193)
SEJA COMO A OSTRA DA PÉROLA
Há
uma bela fábula hindu que diz que quando chove e a estrela Svati está na
ascendente, se uma gota de chuva cai numa ostra, esta gota transforma-se numa
pérola. As ostras sabem disso e assim
elas vêm até a superfície quando a estrela brilha e esperam para captar a
preciosa gota de chuva. Quando uma gota
cai dentro delas, elas fecham rapidamente suas conchas e mergulham para o fundo
do mar, para lá pacientemente transmutarem a gota numa pérola. Devíamos também ser assim. Primeiro ouçam, depois compreendam e então,
deixando de lado todas distrações, fechem suas mentes para as influências de
fora e dediquem-se a desenvolver a verdade em seu interior. (I, 177)
PACIÊNCIA
Havia
um grande deus sábio chamado Narada.
Assim como há sábios na humanidade, grandes Iogues, assim também há
grandes Iogues entre os deuses. Narada era um bom Iogue e muito grande. Viajava por todo lado. Certo dia, passava por uma floresta e viu um
homem que meditava há tanto tempo que as formigas brancas ergueram um grande
cupim ao seu redor. Ele disse a
Narada: "Para onde você está
indo?" Narada respondeu: "Estou indo para o céu." "Então, pergunte a Deus quando Ele será
misericordioso comigo; quando eu
alcançarei a libertação." Mais à
frente, Narada viu outro homem. Ele
pulava, cantava, dançava e disse:
"Oh, Narada, onde o senhor vai?" Sua voz e seus gestos eram selvagens. Narada disse:
"Estou indo para o céu."
"Então, pergunte quando me libertarei." Narada prosseguiu adiante.
No
decorrer do tempo, ele veio de novo pela mesma estrada e lá estava o homem que
estava meditando com o cupim ao seu redor.
Ele disse: "Oh, Narada, o
senhor perguntou a Deus a meu respeito?"
"Oh, sim." "O que disse
Ele?" "O Senhor me disse que
você conseguirá a libertação em mais quatro nascimentos." O homem então começou a chorar e a soluçar e
disse: "Eu meditei até um cupim
crescer ao meu redor e ainda terei mais quatro nascimentos!"
Narada
foi até o outro homem. "O senhor
fez a minha pergunta?" "Oh,
sim. Você está vendo aquele pé de
tamarindo? Pois eu lhe digo que tantas
são as folhas daquela árvore quanto as vezes que você terá de nascer para
alcançar a liberdade." O homem
começou a dançar de alegria e disse:
"Eu ficarei livre em tão pouco tempo!"
Apareceu
então uma voz: "Meu filho, você
será libertado neste minuto." Esta
foi a recompensa por sua perseverança.
Ele estava pronto para trabalhar através de todos aqueles nascimentos,
nada o desencorajava. (I., 193-194)
NO REINO DA TRANQÜILIDADE
O
maior auxílio para a vida espiritual é a meditação. Na meditação nos livramos de todas as
condições materiais e sentimos nossa natureza divina. Não dependemos de nenhum auxílio externo na
meditação. O toque da alma pode pintar a
cor mais brilhante mesmo nos lugares mais sujos; ele pode lançar um perfume sobre a coisa mais
vil; pode transformar o maligno em coisa
divina - e toda hostilidade, todo egoísmo se apaga. Quanto menor o pensamento sobre o corpo,
melhor. Pois é o corpo que nos arrasta
para baixo. É o apego, a identificação
que nos faz infelizes. Eis o segredo: Pensar que eu sou o espírito e não o corpo e
que todo este universo com todas suas relações, com todo seu bem e seu mal, não
é mais do que uma série de pinturas - cenas numa tela - das quais eu sou a
testemunha. (II., 37)
A TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DA MEDITAÇÃO
Havia
um jovem que não conseguia de forma alguma sustentar sua família. Era forte, vigoroso e, finalmente,
transformou-se num bandoleiro de estradas;
ele atacava as pessoas, roubava-as e, com o dinheiro, sustentava seu
pai, sua mãe, esposa e filho. Isto
prosseguiu continuamente, até que, certo dia, um grande santo chamado Narada
caminhava quando foi atacado pelos bandoleiros.
O
sábio perguntou ao assaltante: "Por
que você vai me roubar? É um grande
pecado roubar seres humanos e matá-los.
Por que você está cometendo este pecado?" O ladrão disse: "Porque eu preciso sustentar minha família com este
dinheiro." "Ora," disse o
sábio, "você acha que eles também compartilham do seu pecado?" "Certamente que sim", respondeu o
assaltante. "Muito bem", disse
o sábio, "deixe-me em segurança devidamente amarrado aqui; enquanto isso, você vai até sua casa e
pergunta a seus familiares se eles vão querer compartilhar de seu pecado da
mesma maneira que irão compartilhar do dinheiro que você irá conseguir."
O
homem foi então até seu pai e perguntou:
"Pai, o senhor sabe como eu o sustento?" Ele respondeu: "Não, não sei." "Eu sou um assaltante, mato pessoas e
roubo-as." "O que! Você faz
isto, meu filho? Vá embora! Você, fora da lei!" Ele, então, foi até sua mãe e
perguntou-lhe: "Mãe, a senhora sabe
como a sustento?" "Não",
respondeu ela. "Através de roubo e
assassinato." "Que coisa
horrível!", exclamou a mãe.
"Mas a senhora quer compartilhar do meu pecado?", disse o
filho. "Por que deveria? Eu nunca roubei", respondeu a mãe. Então, ele dirigiu-se a sua esposa e
perguntou-lhe: "Você sabe como eu
sustento vocês todos?" "Não", respondeu ela. "Ora, eu sou um assaltante de
estradas", ele replicou, "e durante anos tenho roubado as
pessoas; é assim que sustento e mantenho
todos vocês. E o que eu quero saber é se
você está pronta a compartilhar do meu pecado." "De forma alguma. Você é meu marido e é sua obrigação
sustentar-me." Então, os olhos do
ladrão foram abertos. "Esta é a lei
do mundo - mesmo meus parentes mais chegados, para quem venho roubando, não
querem compartilhar do meu destino."
Ele voltou para o local onde havia amarrado o sábio, desmanchou seus
laços, caiu a seus pés, narrou tudo e disse:
"Salve-me! Que posso
fazer?"
O
sábio disse: "Abandone seu curso
presente de vida. Você vê que ninguém de
sua família, realmente, ama você, então desista de todas essas ilusões. Eles vão compartilhar de sua
prosperidade; mas, no momento em que
nada tiver, fugirão de você. Não há
ninguém que irá compartilhar de seu infortúnio, mas todos compartilharão de
seus bens. Portanto, adore Aquele que
está ao nosso lado, seja no bem, seja no mal.
Ele nunca nos abandona, pois o amor nunca nos causa dano, não conhece
barganhas nem o egoísmo."
Então,
o sábio ensinou a ele como fazer o culto.
E este homem largou tudo e penetrou na floresta. Lá prosseguiu orando e meditando, até que se
esqueceu de si mesmo de tal maneira que as formigas vieram e construíram cupins
ao seu redor e ele estava absolutamente inconsciente disso.
Depois
de muitos anos se passarem, apareceu uma voz que disse: "Levanta-te, ó sábio!" Assim
despertado, ele exclamou:
"Sábio? Eu sou um ladrão!" "Não mais um ladrão", respondeu a
voz. "Tu és um sábio purificado. Teu velho nome se acabou. Mas, como tua meditação foi tão profunda e
grandiosa que tu não notaste nem mesmo os cupins que te rodearam, teu nome
será, doravante, Valmiki * - aquele que nasceu no cupim." Assim, ele tornou-se um sábio. (IV. 63-65)
* Valmiki é o autor do grande épico
"O Ramayana".
OS TRÊS ESTÁGIOS DA MEDITAÇÃO
Há
três estágios na meditação. O primeiro é
chamado Dharana, a concentração da mente sobre um objeto. Eu tento concentrar minha mente sobre este
copo, excluindo qualquer outro objeto de minha mente, exceto este copo. Mas a mente está oscilando. Quando ela se tornou forte e não oscila tanto
é denominada Dhyana, meditação. E há um
estado ainda mais elevado, quando a diferenciação entre eu e o corpo se perde -
é Samadhi ou absorção. A mente e o corpo
são idênticos. Não vejo mais nenhuma diferença.
Todos os sentidos param e todas as faculdades que estavam trabalhando
através dos outros canais dos outros sentidos são focalizadas na mente. Então, este corpo está inteiramente sob o
poder da mente. Isto deve ser
"realizado". É uma tremenda
façanha executada pelos Iogues.
COMO DESCANSAR
Meditar
significa que a mente se volta para si mesma.
A mente detém todas as ondas do pensamento e o mundo pára. Sua consciência se expande. Toda vez que medita, você está crescendo
interiormente. Trabalhe com mais rigor,
cada vez mais e a meditação chega. Você
não sente seu corpo, nem coisa alguma.
Quando, passado algum tempo, você sair desse estado, terá tido o mais
belo descanso de toda sua vida. Esta é a
única maneira de você dar repouso ao seu organismo. Nem mesmo o sono mais profundo dar-lhe-á descanso como
este. A mente permanece dando pulos
mesmo no sono mais profundo. Apenas
nesses poucos minutos de meditação seu cérebro quase parou. Somente uma leve vitalidade é mantida. Você se esquece do corpo. Poderá ser cortado em pedaços e nada
sentirá. Você sentirá prazer,
então. Tornar-se-á leve. Este é o repouso perfeito que obtemos na
meditação. (IV. 235)
A AÇÃO PROVOCA A REAÇÃO
Em
cada fenômeno da natureza você contribui pelo menos com 50% e a natureza com
outro tanto. Se sua metade for retirada,
as coisas param.
A
cada ação corresponde uma igual reação.
Se um homem me ataca e me fere, aquela é a ação do homem e esta a reação
do meu corpo.
Tomemos
outro exemplo. Você está jogando pedras
na superfície lisa de um lago. A toda
pedra que você lança segue-se uma reação.
A pedra é rodeada por pequenas ondas no lago. Similarmente, as coisas exteriores são como
pedras que caem no lago da mente. Assim,
nós não vemos, realmente, o fato exterior;
vemos somente sua onda. (IV 229,
228)
O PODER DA MEDITAÇÃO
O
poder da meditação nos dá tudo. Se você
deseja obter o poder sobre a natureza, pode obtê-lo pela meditação. É através do poder da meditação que todos os
fatos científicos são hoje descobertos. Eles estudam o assunto e se esquecem de tudo,
de sua própria identidade e tudo o mais, e então o grande fato surge como um
relâmpago. Algumas pessoas pensam que é
inspiração.
Não
existe inspiração. O que passa por
inspiração é o resultado que provém de causas já existentes na mente. Um certo dia, como um raio, vem o
resultado! Os trabalhos passados foram a
causa.
Aí
também você vê o poder da meditação - a intensidade do pensamento. Esses homens agitam suas próprias almas. As grandes verdades vêm à tona e se
manifestam. Portanto, a prática da
meditação é o grande método científico do conhecimento. (IV. 230)
A MEDITAÇÃO É UMA CIÊNCIA
Tudo
que existe é unidade. Não pode haver
multiplicidade. É este o significado de
ciência e conhecimento. A ignorância
enxerga a multiplicidade. O conhecimento
vê a unidade. Ciência é a redução de
muitos até um. A totalidade do universo
foi demonstrada como sendo a unidade.
Esta ciência é a ciência da Vedanta.
O universo todo é uno.
Temos
agora todas essas variações e as vemos - o que chamamos de cinco
elementos: o sólido, o líquido, o
gasoso, o luminoso e o etérico. A
meditação consiste nesta prática de dissolver tudo na Realidade última que é o
espírito. O sólido derrete-se no
líquido, este transforma-se no gasoso, o gasoso no etérico, vem então a mente e
a mente se dissolverá. Tudo é espírito.
A
meditação, você sabe, vem por um processo de imaginação. Você passa através de todos esses processos
de purificação dos elementos - fazendo um transformar-se no outro, este no
próximo mais elevado, este na mente, a mente no espírito e então você é
espírito.
Veja
aqui uma grande massa de argila. Com ela
esculpi um ratinho e você um pequeno elefante.
Ambos são argila.
Misture-os. Eles são,
essencialmente, um só. (IV. 232-35)
PAVHARI BABA: UM IOGUE IDEAL
Todos
já ouviram falar do ladrão que roubou o Ashrama de Pavhari Baba e, ao ver o
santo, ficou horrorizado e correu, deixando as coisas que tinha roubado para
trás, numa trouxa; como o santo pegou a
trouxa, correu atrás do ladrão e atingiu-o, depois de correr algumas
milhas; como o santo pôs a trouxa aos
pés do ladrão e, com as mãos postas e lágrimas nos olhos, pediu perdão por sua
interferência e implorou para que aceitasse os produtos do roubo, que
pertenciam agora ao ladrão e não a ele próprio.
Disseram-nos,
também, de fonte fidedigna, como certa vez ele foi picado por uma cobra e,
embora tenha sido dado como morto por horas, ele reviveu; e que, quando seus amigos lhe perguntaram a
respeito, ele somente respondeu que a cobra "era uma mensageira do Bem
Amado".
Uma
de suas peculiaridades era que se absorvia inteiramente na tarefa que estava fazendo,
por mais trivial que fosse. A mesma
quantidade de cuidado e atenção era aplicada em limpar uma vasilha de cobre ou
na adoração de Sri Raghunathji (Ramachandra, seu ideal escolhido de Deus) - ele
próprio sendo o melhor exemplo do segredo que, certa vez, nos disse sobre o
trabalho: "Os meios devem ser
amados e cuidados como se fossem o próprio fim."
O
presente escritor (Swami Vivekananda) teve a oportunidade de perguntar ao santo
a razão pela qual não saía de sua caverna para ajudar ao mundo. Ele deu a seguinte resposta: "Você pensa que o auxílio físico é o
único auxílio possível? Não será
possível que uma mente possa ajudar outras mentes, sem a atividade do corpo?"
(IV. 292-94)
UMA FÁBULA SOBRE BUDA
Quando
Buda nasceu, era tão puro que, quando qualquer pessoa olhava seu rosto,
imediatamente abandonava a religião cerimonial, tornava-se monge e se
salvava.
Assim,
os deuses se reuniram. Eles
disseram: "Estamos mal",
porque a maioria dos deuses vive na dependência dos cerimoniais. Esses sacrifícios iam para os deuses e
estavam se acabando. Os deuses estavam
morrendo de fome e a razão disto é que seu poder tinha acabado. Disseram assim os deuses: "Precisamos, de qualquer maneira,
derrotar este homem. Ele é puro demais
para nossa vida." Então, os deuses
vieram e disseram (a Buda):
"Senhor, viemos pedir-lhe algo.
Queremos executar uma grande cerimônia e precisamos fazer uma enorme
fogueira. Percorremos o mundo todo em
busca de um local puro para acender o fogo e não pudemos encontrar, mas agora
já o achamos. Se o senhor quiser
deitar-se, faremos a grande fogueira em seu peito." "De acordo", respondeu ele,
"prossigam."
E
os deuses fizeram a fogueira sobre o peito de Buda, pensaram que ele estava
morto, mas não era verdade. Eles então
partiram e disseram: "Estamos
acabados!" E todos os deuses
começaram a bater nele. Não adiantou. Não conseguiram matá-lo. Debaixo da terra veio uma voz: "Por que estão fazendo estas vãs
tentativas?"
"Todo
aquele que olha para ele, purifica-se e se salva e ninguém irá
adorar-nos".
"Então
suas tentativas são nulas, porque a pureza não pode jamais ser
morta." (III. 525)
UMA CANÇÃO DE SAMADHI
(Traduzida do Bengali)
Veja! O sol não mais existe, nem a graciosa lua,
Toda
luz se extinguiu; no grande vazio do
espaço
Flutua
como uma sombra a imagem do universo.
No
vazio da mente involuída, lá flutua
O
universo que se move, ergue-se e de novo cai,
Afunda
de novo, incessantemente, na corrente do "Eu".
Lentamente,
bem lentamente, a multidão de sombras,
Entrou
no ventre original e fluiu sem cessar,
Pela
única corrente do "Eu sou", "Eu sou".
Veja! Tudo parou, mesmo aquela corrente não flui
mais,
Vácuo
mergulhado no vácuo - para além de toda palavra e mente!
Para
aquele cujo coração, em verdade, tudo compreende. (IV. 498)
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Pergunta: A quem podemos chamar de Guru?
Swami Vivekananda: Aquele que pode dizer o seu passado e o seu
futuro é o seu Guru.
Pergunta: Como se pode ter Bhakti (devoção)?
Swamiji : Existe Bhakti dentro de você, somente um véu
de luxúria e dinheiro a cobre e, assim que isso for removido, Bhakti se
manifestará por si mesma.
Pergunta: Kundalini (energia espiritual) realmente
existe no corpo físico?
Swamiji : Sri Ramakrishna costumava dizer que os assim
chamados "lotus" do Iogue realmente não existem no corpo humano, mas
que são criados dentro da gente pelos poderes do Ioga.
Pergunta: Pode um homem alcançar Mukti (libertação)
pela adoração de imagens?
Swamiji : A adoração de imagens não pode diretamente
dar Mukti; pode ser uma causa indireta,
um auxílio na caminhada. A adoração de
imagens não deve ser condenada, pois, para muitos, prepara a mente para a
realização da Advaita (não-dualidade) que torna o homem perfeito.
Pergunta: O que é Mukti?
Swamiji : Mukti significa total liberdade - liberação
dos liames do bem e do mal. Uma corrente
de ouro é corrente da mesma forma que uma de ferro. Sri Ramakrishna dizia que, para tirar um
espinho que entrou no pé, é necessário usar outro espinho e, quando aquele é
retirado, ambos são jogados fora. Assim,
as más tendências serão contrabalançadas pelas boas, mas, depois disso, as boas
tendências têm de ser também conquistadas.
Pergunta: Como a Vedanta pode ser realizada?
Swamiji : Através da "audição, reflexão e
meditação". O ouvir deve ser por
intermédio de um Sad-Gurú (um Guru verdadeiro).
Mesmo se alguém não for um discípulo regular, mas se for um aspirante
bem ajustado e ouvir as palavras do Sad-Gurú, ele se libertará.
Pergunta: Onde devemos meditar - dentro ou fora do
corpo? Deve a mente ser conduzida para
dentro ou mantida fora da gente?
Swamiji : Devemos tentar meditar do lado de
dentro. Quanto ao fato da mente estar
aqui ou lá, demorará um longo tempo até se atingir o plano mental. Nossa luta agora é com o corpo. Quando se adquire uma perfeita rigidez na
postura, então e somente então, começa-se a lutar contra a mente. Conseguindo-se Asana (a postura), nossos membros
ficam imóveis, e se pode sentar o tempo que quisermos.
Pergunta: Algumas vezes a gente fica cansado do Japa
(repetição do Mantra). Devemos continuar
ou ler algum bom livro, em troca?
Swamiji : A gente se cansa com o Japa por duas
razões. Algumas vezes nosso cérebro está
cansado, outras vezes é resultado de preguiça.
No primeiro caso, devemos abandonar o Japa no momento, pois persistir
nele resultaria em ter alucinações, em ficar lunático, etc. No segundo caso, a mente deve ser forçada a
continuar o Japa.
Pergunta: É bom praticar Japa por longo tempo, embora a
mente esteja vagando?
Swamiji : Sim.
Do mesmo modo que as pessoas domam um cavalo selvagem, ficando sempre
sentadas em seu lombo.
Pergunta: Qual é a eficiência da oração?
Swamiji : Pela oração nossos poderes sutis são
facilmente despertados e, se for feita conscientemente, todos
os desejos podem
ser atendidos por ela; mas, feita
inconscientemente, talvez um desejo em dez é atendido.
Pergunta: O senhor escreveu no seu Bhakti-Ioga que, se
um homem de compleição fraca tenta praticar Ioga, uma tremenda reação
acontece. O que fazer então?
Swamiji : Por que ter medo de morrer ao tentar realizar
o Eu? O homem não tem medo de morrer por
conta do dinheiro e de muitas outras coisas, por que você teria medo de morrer pela
religião? (V. 314-25)
EXPERIÊNCIA E VERIFICAÇÃO
Swamiji: Um dia, no templo-jardim de Dakshineswar, Sri
Ramakrishna tocou-me acima do coração e, a seguir, eu comecei a ver que as
casas - quartos, portas, janelas, varandas - as árvores, o sol, a lua - todos
estavam voando, como se estivessem explodindo - reduzindo-se a átomos e
moléculas - e finalmente mergulharam no Akasha (espaço). Aos poucos, o Akasha também desvaneceu-se e,
depois disso, esvaiu-se simultaneamente minha consciência do ego; o que aconteceu depois não me recordo. Fiquei, de início, aterrorizado. Ao voltar daquele estado, de novo comecei a
ver as casas, portas, janelas, varandas e outras coisas. Em outra ocasião eu tive exatamente a mesma
experiência, às margens de um lago na América.
Discípulo: Não poderia esse estado ser causado por um
desarranjo do cérebro? Não compreendo
que felicidade pode haver em experimentar tal estado.
Swamiji: Uma perturbação do cérebro! Como pode você falar nisso, quando ele não é
resultado do delírio de alguma doença, nem de embriaguez, nem de uma ilusão
produzida por vários tipos de extravagantes exercícios respiratórios - mas,
quando ocorre com um homem normal, em plena possessão de suas faculdades
mentais e de saúde? Então, de novo, esta
experiência está em perfeita harmonia com os Vedas. Coincide também com as palavras de realização
dos inspirados Rishis (sábios) e Acharyas (instrutores) dos velhos tempos. (V.
392)
COMO SER DESAPEGADO
Quase
todo nosso sofrimento é causado por não termos o poder de desapego. Assim, juntamente com o desenvolvimento da
concentração, devemos desenvolver o poder do desapego. Devemos aprender não somente a fixar a mente
exclusivamente numa coisa, mas também a desligá-la dela instantaneamente e
fixá-la num outro objeto. Estas duas
coisas devem ser desenvolvidas juntas para um melhor resultado.
Este
é o desenvolvimento sistemático da mente.
Para mim a verdadeira essência da educação é a concentração da mente,
não a coleta de fatos. Se eu tivesse de
refazer minha educação e tivesse liberdade no assunto, não estudaria somente
fatos, de modo algum. Eu desenvolveria
meu poder de concentração e desapego e então, com um perfeito instrumento,
poderia coligir dados à vontade.
Deveríamos
fixar nossa mente nas coisas; elas não
deveriam atrair nossa mente para si.
Usualmente, somos forçados a nos concentrar. Nossas mentes são forçadas a se fixarem em
diferentes coisas por uma atração que nelas existe e à qual não conseguimos
resistir. Para controlar a mente, para
colocá-la exatamente onde queremos, precisamos de um treinamento especial. (VI 38-39)
COMO ESTUDAR A MENTE
A
mente descontrolada e sem rumo, nos fará afundar, para sempre - nos entregará,
nos matará; e a mente controlada e
guiada nos salvará, nos libertará.
Para
estudar e analisar qualquer ciência material, são obtidos os dados
suficientes. Estes fatos são estudados e
analisados e como resultado vem o conhecimento da ciência. Mas, no estudo e análise da mente, não há
dados, não há fatos que estejam, igualmente, à disposição de todos.
A
mente é analisada por si própria.
Portanto, a maior ciência é a ciência da mente, a ciência da psicologia.
No fundo, bem no fundo, está a alma, o homem essencial, o Atman. Vire a mente pelo avesso e fique unido a
ela; e, deste ponto de estabilidade, o
girar da mente pode ser apreciado e todos os fatos observados, como acontece
com todas as pessoas.
Para
controlar a mente você deve mergulhar fundo na mente subconsciente, classificar
e ordenar todas as diferentes impressões, pensamentos, etc., lá conservados e,
então, controlá-los. Este é o primeiro
passo. Através do controle da mente
subconsciente você obtém o controle do consciente. (VI.
30-32)
SUGESTÕES PRÁTICAS SOBRE MEDITAÇÃO
Swami Shuddananda: Qual é a real natureza da meditação?
Swamiji: Meditação é a focalização da mente num
objeto. Se a mente consegue a
concentração num objeto, ela pode se concentrar em qualquer outro objeto.
Discípulo: As escrituras mencionam dois tipos de
meditação - uma tendo algum objeto e a outra sem objeto. O que significa tudo isto e qual das duas é
superior?
Swamiji: Primeiramente, a prática da meditação deve
ser feita sobre algum objeto diante da mente.
Numa certa época eu costumava concentrar minha mente em algum ponto
preto. No fim, durante aqueles dias, eu
não conseguia mais ver o preto, nem notar que o ponto estava diante de mim - a
mente não mais existia - nenhuma onda de pensamento aparecia, como se tudo
fosse um oceano sem nenhuma lufada de ar.
Naquele estado eu experimentava relances de uma verdade que ultrapassava
os sentidos. Assim, penso que a prática
da meditação mesmo com algum trivial objeto externo leva à concentração
mental. Mas é verdade que a mente
facilmente alcança a quietude quando a gente pratica a meditação com algo no
qual nossa mente está mais apta para se fixar.
Esta é a razão pela qual neste país (Índia) fazemos tanto culto a
imagens de deuses e deusas. O real objetivo é colocar a mente sem funcionamento,
mas isto não pode ser conseguido, a menos que alguém fique absorvido nalgum
objeto.
Discípulo: Mas, se a mente fica completamente absorta e
identificada com algum objeto, como poderá nos dar a consciência de
Brahman?
Swamiji: Sim, embora a mente primeiro assuma a forma
do objeto, mais tarde, a consciência do objeto se esvanece. Então, somente permanece a experiência desse
estado. (VI. 486-87)
PODERES SOBRENATURAIS
Swamiji disse: "É possível adquirir poderes miraculosos
com algum leve grau de concentração mental" e, voltando-se para o
discípulo, perguntou: "Bem, você
gostaria de aprender a ler pensamentos?
Posso ensinar-lhe isto em quatro ou cinco dias."
Discípulo: Para que me serviria isto, senhor?
Swamiji: Ora, você será capaz de conhecer a mente dos
outros.
Discípulo: Isto me ajudará para alcançar o conhecimento
de Brahman?
Swamiji: Nem um pouco.
Discípulo: Então, não preciso conhecer essa ciência.
Swamiji: Sri Ramakrishna costumava desprezar esses
poderes sobrenaturais; seu ensinamento
era de que não se pode atingir a verdade suprema se a mente for desviada para a
manifestação desses poderes. Contudo, a
mente humana é tão fraca que, não se falando em chefes de família, mesmo
noventa por cento dos Sadhus
(Monges) são partidários desses
poderes. No Oeste, os homens ficam
maravilhados quando deparam com tais milagres.
Foi somente porque Sri Ramakrishna nos fez compreender o mal desses
poderes como entraves à real espiritualidade que nos tornamos capazes de dar a
eles seu devido valor. Você não observou
que, por este motivo, os filhos de Sri Ramakrishna não prestam atenção
neles? (VI, 515-17)
O MISTÉRIO DO SAMADHI
Discípulo: Depois de alcançar o absoluto e transcendente
Nirvikalpa Samadhi ninguém pode voltar ao mundo da dualidade pela consciência
do Egoísmo?
Swamiji: Sri Ramakrishna costumava dizer que somente
os Avataras (encarnações divinas) podem descer ao plano comum depois do estado
de Samadhi, para o bem do mundo. Os
Jivas (almas individuais) comuns não podem.
Discípulo: Quando a mente mergulha no Samadhi e não há
ondas na superfície da consciência, onde fica a possibilidade de atividade
mental e de retornar ao mundo, através da consciência do Ego? Se não há mente, quem descerá do Samadhi para
o plano relativo e com qual meio?
Swamiji: A conclusão da Vedanta é que, quando há o
absoluto Samadhi e a cessação de todas as atividades, não há volta deste
estado. Mas os Avataras acalentam alguns
desejos para o bem do mundo.
Agarrando-se a essa ligação, eles descem do estado superconsciente para
o estado consciente. (VII. 140)
O PODER DE OJAS
Os
Iogues dizem que aquela parte da energia humana que se manifesta como energia
sexual, em pensamentos sobre sexo, quando observada e controlada, facilmente se
transforma em Ojas.
Ojas
fica estocada no cérebro e, quanto mais houver Ojas na cabeça do homem, mais
poderoso ele é, mais intelectual e mais forte espiritualmente.
Um
certo homem pode expressar belos pensamentos com bela linguagem sem
impressionar as pessoas; outro não
apresenta bela linguagem nem belos pensamentos, contudo suas palavras encantam. Cada atitude dele é poderosa. Este é o poder de Ojas.
Somente o homem e a mulher castos podem fazer Ojas subir e armazenar-se
no cérebro; por essa razão, a castidade
sempre foi considerada a mais alta virtude.
É por isto que todas as ordens religiosas do mundo que produziram
gigantes espirituais sempre insistiram em castidade absoluta. Deve haver perfeita castidade em pensamento,
palavras e ação. (I. 169-70)
O DOMÍNIO DO APRENDIZADO
Poucos
anos atrás, uma nova coleção da Enciclopédia Britânica foi comprada para o
Mosteiro de Belur. Ao olhar para os
novos livros que brilhavam, o discípulo disse a Swamiji: "É quase impossível ler todos esses
livros numa única existência." Ele
ignorava que o Swamiji já tinha lido dez volumes e começara a ler o
décimo-primeiro.
Swamiji: O que você diz? Pergunte-me o que quiser desses dez livros e
responderei tudo para você.
O discípulo maravilhado
perguntou: "O senhor já leu todos
estes livros?"
Swamiji: Por que então eu iria lhe pedir para me fazer
perguntas?
Ao
responder às perguntas, Swamiji não somente reproduziu o sentido, como também
às vezes até utilizou a mesma linguagem encontrada nos difíceis tópicos
selecionados de cada volume. O discípulo
atônito, colocou de lado os livros, dizendo:
"Isto ultrapassa os limites humanos!"
Swamiji: Como você vê, simplesmente pela observância
de uma rígida continência, todo conhecimento pode ser dominado em prazo muito
curto - a gente adquire uma memória infalível do que se ouve ou se aprende, por
uma única vez. (VII. 223-24)
O PODER DA MENTE
A
ciência da Raja Ioga, em primeiro lugar, se propõe a nos propiciar meios de
observar nossos estados interiores. O
instrumento é a própria mente. O poder
da atenção, quando propriamente conduzido e dirigido para o mundo interior, irá
analisar a mente e iluminar os fatos para nós.
Os poderes da mente são como raios de luz malbaratados; quando se concentram passam a iluminar. Este é nosso único meio de conhecimento.
O
mundo está pronto para revelar seus segredos se a gente souber como bater na
porta, como dar o golpe necessário. A
energia e força desse golpe advém da
concentração. Não há limite para o poder
da mente humana. Quanto mais concentrada
ela for, mais poder poderá ser concentrado num dado ponto; é este o segredo. (I. 129, 130-31)
O TRÁFICO DE MISTÉRIOS
Tudo
que for secreto e misterioso nesses sistemas de Ioga (Raja-Ioga) deve ser,
imediatamente, repelido. O melhor guia
na vida é a fortaleza. Na religião,
assim como em todos os outros assuntos, livre-se de tudo que possa
enfraquecê-lo, não se envolva com isto.
O tráfico dos mistérios enfraquece o cérebro humano. Ele quase destruiu a Ioga - uma das mais
importantes ciências. (I. 134)
SIGA O CAMINHO DO MEIO
Um
Iogue deve evitar os dois extremos da luxúria e da austeridade. Ele não deve nem jejuar, nem torturar sua
própria carne. Aquele que assim o faz,
diz o Gita, não pode ser um Iogue:
aquele que jejua, aquele que se mantém acordado, aquele que dorme
demais, aquele que trabalha em excesso,
aquele que não trabalha, nenhum
destes pode ser um Iogue. (I. 136)
O CAMINHO REAL
A
ciência da Raja Ioga se propõe a entregar à humanidade um método prático e
cientificamente elaborado para alcançar esta verdade (a imortalidade). Em primeiro lugar, cada ciência deve ter seu
próprio método de investigação. Se você
quiser tornar-se um astrônomo e se assentar e gritar "Astronomia!
Astronomia!", você nunca será um astrônomo. O mesmo acontece com a química. Um certo método terá de ser seguido. Você deve ir a um laboratório, pegar
diferentes substâncias, misturá-las, combiná-las, fazer experiências com elas
e, disso tudo, advirá um conhecimento de química. Se você quiser tornar-se um astrônomo, deverá
dirigir-se a um observatório, pegar um telescópio, estudar as estrelas e os
planetas e então se tornará um astrônomo.
Cada ciência deve ter seus próprios métodos. Eu poderia fazer para você milhares de
sermões, mas eles não iriam torná-lo religioso, a menos que você seguisse um
método. (I. 128)
OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO
Pense
e medite, dia e noite, em Brahman, medite com aguda concentração da mente. E durante o tempo que estiver desperto para a
vida exterior, faça algum trabalho em favor dos outros ou repita em sua
mente: "Que o bem aconteça para os
Jivas e o mundo!" , "Que a mente de todos flua em direção a
Brahman!" O mundo será beneficiado
por tal corrente contínua de pensamento.
Nada de bom no mundo deixa de dar frutos, seja trabalho ou pensamento. Suas correntes mentais talvez despertem o
sentimento religioso de alguém na América.
(Swamiji disse isto no mosteiro de Belur, perto de Calcutá, quando
conversava com um discípulo indiano.)
(VII. 237)
NAS HORAS DA MEDITAÇÃO
Você
deve conservar sua mente fixa num objeto, como uma corrente ininterrupta de
óleo. A mente comum do homem se dispersa
em objetos diferentes e, por ocasião da meditação, também, a mente de início
tende a vagar. Mas deixe que qualquer
objeto surja na mente; você deve sentar-se
calmamente e observar que tipos de idéias estão surgindo. Ao continuar a observar-se dessa maneira, a
mente torna-se calma e não mais existem nela ondas de pensamento. Aquelas coisas em que você pensava, antes,
com profundidade, transformaram-se numa corrente subconsciente e, por isso,
elas afloram na mente na meditação.
O
surgimento dessas ondas, ou pensamentos, durante a meditação é uma evidência de
que sua mente se encaminha para a concentração.
Algumas vezes a mente se concentra num conjunto de idéias - isto é
denominado meditação com Vikalpa ou oscilação.
Mas, quando a mente fica quase livre de toda atividade, ela se funde com
o Eu interior, que é a essência do Conhecimento Infinito, a Unidade. Isto é que se chama Nirvikalpa Samadhi, livre
de todas as atividades. Em Sri
Ramakrishna, nós repetidamente observamos ambas essas formas de Samadhi. Ele não precisava de lutar para alcançar
esses estados. Num momento, eles vinham
espontaneamente. Era um fenômeno
maravilhoso. Nós podíamos compreender
corretamente essas coisas, simplesmente ao observá-lo. (VII. 253-54)
AS EMOÇÕES E A MEDITAÇÃO
Swamiji: Medite sozinho, diariamente. Tudo se abrirá por si mesmo. Durante a meditação, suprima, totalmente, o
lado emocional. Este é uma grande fonte
de perigo. Aqueles que são muito
emotivos, sem dúvida, estão com o Kundalini subindo rapidamente, mas da mesma
forma ele desce com rapidez. E quando
ele efetivamente desce, deixa o devoto num estado de extrema ruína. É por esse motivo que as Kirtanas (a execução
de cantos devocionais) e outras coisas que auxiliam o desenvolvimento emocional
tiveram grande decaída. É verdade que
através de dançar e pular, por um impulso momentâneo, aquela força sobe, mas
isso dura pouco. Ao contrário, quando
ela retoma seu curso, ocasiona violenta luxúria no indivíduo. Mas isso acontece simplesmente devido a uma
falta de prática firme de meditação e concentração.
Discípulo: Senhor, eu nunca li, em nenhuma escritura,
esses segredos de prática espiritual.
Hoje, ouvi um bocado de coisas novas.
Swamiji: Você pensa que as Escrituras contêm todos os
segredos da prática espiritual? Estes
têm sido transmitidos secretamente através de uma sucessão de Gurús e
discípulos. Não perca nenhum dia. Se estiver pressionado por excesso de
trabalho, faça exercícios espirituais pelo menos durante um quarto de
hora. Pode você alcançar a meta sem uma
firme devoção, meu filho?
LEIA SUA PRÓPRIA VIDA
Controle
a mente, suprima os sentidos, então você será um Iogue; depois disto, todo o resto virá.
Recuse-se
a ouvir, ver, cheirar e provar; retire o
poder mental dos órgãos externos. Você
faz isto contínua e inconscientemente quando sua mente está absorta; assim, poderá aprender a fazê-lo
conscientemente. A mente pode colocar os
sentidos onde bem quiser. Livre-se da
superstição fundamental de que é obrigado a agir em função do corpo. Não somos dependentes dele. Entre em seu quarto e saque os Upanishads de
seu próprio Eu interno. Você é o maior
livro que já foi ou será escrito, o infinito depositário de tudo que é. Até que se abra o professor interior, todo
ensinamento exterior é vão.
Os
livros são inúteis para nós até quando nosso próprio livro se abre; então, todos os outros livros serão bons na
medida em que confirmem nosso próprio livro.
É o forte que compreende a força, é o elefante que compreende o leão,
não o rato. Como poderemos entender
Jesus, a menos que nos igualemos a Ele?
Somente a grandeza aprecia a grandeza, somente Deus identifica Deus.
Nós
somos livros vivos, e livros não são senão as palavras que proferimos. Tudo é Deus vivo, o Cristo vivo; enxergue de tal modo. Leia o homem, ele é o poema vivo. Nós somos a luz que ilumina todas as Bíblias
e os Cristos e Budas que já existiram.
Sem isto, eles seriam mortos para nós e não vivos. (VII. 71,89)
OS OITO RAMOS DA IOGA
A
Raja-Ioga é conhecida como a Ioga óctupla, porque se divide em oito partes
principais.
São
elas:
1ª) YAMA.
É a mais importante e tem de governar toda a vida. Tem cinco divisões:
a) Não prejudicar nenhum ser por
pensamentos, palavras ou
atos.
b) Não cobiçar ardentemente, em pensamentos,
palavras ou atos.
c) Perfeita
castidade em pensamentos, palavras ou atos.
d) Sinceridade perfeita em pensamentos, palavras ou atos.
e) Não receber presentes.
2ª) NIYAMA.
Cuidados com o
corpo, banhos diários, dietas, etc.
3ª) ASANA, posturas. Os quadris,
os ombros e a cabeça devem ser
mantidos eretos, deixando livre a
espinha dorsal.
4ª) PRANAYAMA,
controle da respiração (a fim de controlar o Prana ou força vital).
5ª) PRATYAHARA, volver a mente para o interior e impedi-la de ir para fora, revolvendo as questões na
mente a fim de compreendê-las.
6ª) DHARANA, a concentração em um assunto.
7ª) DHYANA, meditação.
8ª) SAMADHI, iluminação, a meta de todos os nossos esforços.
Aquele
que busca chegar até Deus através da Raja-Ioga deve ser forte mentalmente,
fisicamente, moralmente e espiritualmente. Tome todas as providências nesse
sentido. (VIII, 41,44)
NO LIMIAR
Esta
é uma lição que visa trazer à luz a individualidade. Cada individualidade deve ser cultivada. Todas se encontrarão no centro. "A imaginação é a porta para a
inspiração e a base de todo pensamento."
Todos os profetas, poetas e descobridores tiveram grande poder
imaginativo. A explicação da natureza
está em nós; a pedra cai do lado de
fora, mas a gravitação está em nós, e não no exterior.
Aqueles
que se enchem de comida, aqueles que passam fome, aqueles que dormem demais,
aqueles que dormem muito pouco, não podem se tornar Iogues. A ignorância, o egoísmo, a volubilidade, a
preguiça e o apego excessivo são os grandes inimigos do sucesso da prática da
Ioga. Os três grandes requisitos são:
1º) PUREZA, física e mental; tudo que for impuro, tudo que arrastar a
mente para baixo, deve ser abandonado.
2º) PACIÊNCIA.
De início haverá maravilhosas manifestações, mas todas cessarão. Este é o período mais duro, mas agüente; no final, o ganho será certo se você tiver
paciência.
3º) PERSEVERANÇA. Persevere até o fim, através da saúde e da
doença, nunca deixe de praticar um dia sequer.
(VIII. 38)
A MENTE E SEUS ASPECTOS
A
mente ou órgão interno tem quatro aspectos:
1º) MANAS, a faculdade de raciocinar ou
pensar, que, usualmente, é quase inteiramente desperdiçada, por falta de
controle; governada apropriadamente, é
um maravilhoso poder.
2º) BUDDI, a vontade (algumas vezes chamada de intelecto).
3º) AHAMKARA, o egotismo auto-consciente (de
Aham).
4º) CHITTA, a substância em que e através da
qual todas as faculdades agem, como se fosse o chão da mente; ou o mar do qual as várias faculdades são
ondas.
A
Ioga é a ciência pela qual impedimos que Chitta assuma ou se transforme em
várias faculdades. Assim como a imagem
da lua no mar é quebrada ou deformada pelas ondas, da mesma forma o reflexo de
Atman, o verdadeiro Eu, é quebrado pelas ondas mentais. Somente quando o mar consegue atingir a calma
de um espelho, pode o reflexo da lua ser visto e somente quando o "recheio
da mente", Chitta, atinge a calma absoluta, pode o Eu ser
reconhecido. (VIII. 39-40)
MEDITE EM SILÊNCIO
É
impossível encontrar Deus fora de nós mesmos.
Nossas próprias almas contribuem para toda divindade que existe fora de
nós. Nós somos o maior dos templos. A objetivação é somente uma pálida imitação
do que podemos ver dentro de nós mesmos.
A
concentração dos poderes da mente é o nosso único instrumento para nos ajudar a
encontrar Deus. Se você conhecer uma
alma (a sua própria), você conhecerá todas as almas, passadas, presentes e as
que virão. A mente concentrada é uma lâmpada
que ilumina cada canto da alma.
A
Verdade não pode ser parcial; existe
para o bem de todos. Finalmente, em
perfeito repouso e paz, medite sobre Ela, concentre sua mente Nela, torne-se
uno com Ela. Então, nenhuma palavra será
necessária; o silêncio trará a
Verdade. Não gaste sua energia
tagarelando, mas medite em silêncio; e
não deixe o burburinho do mundo exterior perturbá-lo. Quando sua mente alcança o estado mais
elevado, você fica inconsciente disso.
Acumule energia em silêncio e torne-se um dínamo de
espiritualidade. (VII. 59-61)
MEDITAÇÃO SEGUNDO A VEDANTA
A
primeira noite de Swamiji no Acampamento
Taylor (Norte da Califórnia), 2 de Maio de 1900. Eu cerro meus olhos e o vejo de pé na mansa
escuridão, entre fagulhas que saltam do ardente fogo da fogueira, com a lua de
um dia brilhando no alto. Ele estava desgastado
depois de uma longa temporada de conferências, mas relaxado e feliz por estar
ali. "Nós encerramos nossa vida na
floresta", disse ele, "assim como a começamos, mas com um mundo de
experiências entre os dois estados."
Mais tarde, depois de uma curta conversa, quando íamos começar a
costumeira meditação, ele falou:
"Você deve meditar no que quiser, mas eu irei meditar sobre o
coração de um leão. Isto traz força." A bênção, o poder e a paz da meditação que se
seguiu não poderiam jamais ser descritos.
(Lembranças
de Swami Vivekananda: Ida Ansell)
POR QUE DEUS?
Já
me perguntaram muitas vezes: "Por
que você usa aquela velha palavra, Deus?"
Porque é
a melhor palavra para o nosso
objetivo; você não pode encontrar melhor
palavra que esta, porque todas as esperanças, aspirações e felicidade da
humanidade têm sido centralizadas naquela palavra. É agora impossível mudar tal palavra. Palavras como esta foram primeiramente
cunhadas por grandes santos que verificaram sua importância e compreenderam seu
significado. Mas, quando se tornam
comuns na sociedade, os ignorantes se apossam dessas palavras e o resultado é
que elas perdem seu espírito e sua glória.
A palavra Deus tem sido usada desde tempos imemoriais e a idéia desta
inteligência cósmica e de tudo que é grandioso e sagrado, se associa a
ela. Você acha que, porque alguns tolos
dizem que não está certo, deveríamos desprezá-la? Algum outro homem pode chegar dizendo
"Use esta palavra" e ainda outro "Utilize tal
palavra". Assim não haverá fim para
palavras tolas. Use a velha palavra,
use-a somente no verdadeiro sentido, limpe-a de toda superstição e tenha plena
consciência do que significa esta grande e antiga palavra. (II. 210).
A CONCEPÇÃO VEDÂNTICA DE DEUS
O
que é o Deus da Vedanta? Ele é um
princípio, não uma pessoa. Você e eu
somos todos Deuses Pessoais. O Deus
absoluto do Universo, o criador, preservador e destruidor do Universo, é um
princípio impessoal. Você e eu, o gato,
o rato, o diabo e o fantasma, todos somos Seus personagens - todos somos Deuses
Pessoais. Você quer cultuar Deuses
Pessoais. É o culto do seu próprio
eu. Se você aceitar meu conselho, nunca
entrará em nenhuma igreja. Saia e vá
lavar-se. Lave-se, repetidamente, até
ficar limpo de todas as superstições que grudaram em você, através dos tempos.
Perguntaram-me
muitas vezes: "Por que você ri
tanto e diz tantas piadas?" Eu fico
sério, às vezes - quando tenho dor de estômago!
O Senhor é felicidade plena. Ele
é a realidade atrás de tudo que existe, Ele é o bem, a verdade em tudo. Vocês
são Suas encarnações.
Isto
é que é glorioso. Quanto mais perto você
estiver Dele, menos oportunidade terá de chorar ou soluçar. Quanto mais se afastar Dele, mais desventuras
surgirão. Quanto mais O conhecermos,
tanto mais as angústias desaparecerão.
Deus
é o ser impessoal, infinito - o sempre existente, imutável, imortal,
destemido; e vocês todos são Suas
encarnações. Este é o Deus da Vedanta e
Seu céu está em todo lugar. (VIII.
133-34)
A META E OS MÉTODOS DE REALIZAÇÃO
Assim
como toda ciência tem seus métodos, o mesmo acontece com cada religião. Os métodos para alcançar o objetivo da
religião são chamados por nós de Ioga e as diferentes formas de Ioga que
ensinamos, são adaptadas às diferentes naturezas e temperamentos dos
homens. Classificamo-las da seguinte
maneira, em quatro grupos:
1
- KARMA-IOGA: A maneira pela qual o
homem realiza sua própria divindade através do trabalho e do dever.
2
- BHAKTI-IOGA: A realização da divindade
através da devoção e do amor de um Deus Pessoal.
3
- RAJA-IOGA: A realização da divindade
pelo controle da mente.
4
- JNANA-IOGA: A realização da própria
divindade do homem através do conhecimento.
Estas
são as diferentes estradas que vão ao mesmo centro - Deus. (V. 292)
ORE PELA ILUMINAÇÃO
Ore
pela iluminação:
"Eu
medito na glória daquele Ser que criou este universo; que Ele ilumine minha mente."
Sente-se
e medite sobre isto durante dez ou quinze minutos.
Não
conte suas experiências a ninguém, a não ser seu Guru.
Fale
o menos possível.
Mantenha
seus pensamentos em coisas virtuosas; nos transformamos naquilo em que
pensamos.
A
meditação em coisas puras, nos ajuda a queimar todas as nossas impurezas
mentais.
(VIII. 39)
O DESPERTAR DA HIPNOSE
A
meditação foi sempre enfatizada por todas as religiões. Segundo os Iogues o estado meditativo da
mente é o estado mais elevado em que ela existe. Quando a mente está estudando um objeto
externo, identifica-se com ele e se perde.
Para usar a comparação do velho filósofo hindu: a alma do homem é como um pedaço de cristal,
mas assume a cor de tudo que está próximo a ela. De tudo que a alma toque... retira sua cor.
Esta
é a dificuldade. Aí está a escravidão. A cor é tão forte que o cristal esquece-se de
si mesmo e se identifica com a cor.
Suponha que uma flor vermelha esteja junto do cristal e que o cristal
absorva a cor, esqueça-se de si mesmo e pense que é vermelho. Nós todos assumimos a cor do corpo e
esquecemos quem somos. Todos nossos
temores, todas preocupações, ansiedades, dificuldades, enganos, fraquezas, o
mal, derivam daquele grande erro crasso - que somos corpos materiais.
A
prática da meditação prossegue. O
cristal sabe o que é, adquire sua própria cor.
É a meditação que nos leva mais perto da verdade do que qualquer outra
coisa. (IV. 227)
AQUI E AGORA
Não
espere até conseguir uma harpa para descansar, passo a passo; por que não pegar uma harpa e começar
aqui? Por que esperar pelo céu? Faça-o aqui.
Como
podemos entender que Moisés viu Deus, a menos que O vejamos? Se Deus alguma vez veio para alguém, Ele virá
até mim. Eu irei diretamente até Deus; que Ele fale comigo. Não posso me basear na crença; isto é ateísmo e blasfêmia. Se Deus falou com um homem nos desertos da
Arábia, há dois mil anos, Ele também pode falar comigo hoje, se não fizer isto
como saberei que Ele não morreu? Vá até
Deus de toda maneira que puder; apenas
vá. Mas, quando for, não prejudique a
ninguém. (VII. 93,97)
UMA CANÇÃO DE NINAR INDIANA
Era
uma vez uma rainha hindu, que desejava tão ardentemente que todos os seus
filhos conseguissem a libertação nesta vida, que ela mesma cuidava deles
todos; quando os embalava para dormir,
ela sempre cantava a mesma canção - "Tat tvam asi, Tat tvam asi" ("Isto sois Vós, isto sois Vós").
Três
deles tornaram-se Sannyasins (monges), mas o quarto foi levado para ser educado
para tornar-se um rei, noutro lugar. Ao
partir, sua mãe deu-lhe uma folha de papel que ele deveria ler somente quando
atingisse a maioridade. Naquela folha
estava escrito: "Somente Deus é
verdadeiro. Tudo o mais é falso. A alma nunca mata ou é morta. Viva sozinho ou na companhia de pessoas
puras." Quando o jovem príncipe leu
isso, ele também renunciou ao mundo imediatamente e tornou-se um
Sannyasin. (VII 89-90)
A FÁBULA DOS DOIS PÁSSAROS
Toda
a filosofia da Vedanta está contida nesta história:
Dois
pássaros de plumagem dourada pousaram na
mesma árvore. O que estava no
alto era sereno, majestoso, imerso em sua própria glória; o que estava mais abaixo era inquieto e comia
os frutos da árvore, ora doces, ora amargos. Certa vez ele comeu um fruto excepcionalmente
amargo e olhou para o majestoso pássaro do alto; mas logo esqueceu-se do outro pássaro e
prosseguiu comendo os frutos da árvore, como antes. Comeu, de novo, um fruto amargo, e, desta
vez, alçou-se para um pouco mais perto do pássaro do topo. Isto aconteceu muitas vezes até que,
finalmente, o pássaro que estava embaixo veio até o lugar do pássaro de cima e
perdeu sua identidade. Ele compreendeu,
subitamente, que nunca houvera dois pássaros, e que ele fora, durante todo o
tempo, aquele pássaro de cima, sereno, majestoso e imerso em sua própria
glória. (VII. 80)
SEJA GRATO!
Seja
grato para com aquele que o amaldiçoa, pois ele lhe dá um espelho para você ver
o que é a maldição, e também uma oportunidade para praticar o
auto-controle; assim, abençoe-o e fique
feliz. Sem o exercício, a força não pode
surgir; sem o espelho, não podemos ver a
nós mesmos.
Os
anjos nunca fazem coisas perversas, assim nunca são punidos e nunca são
salvos. São os golpes que nos acordam e
nos ajudam a desfazer o sonho. Eles nos
mostram a precariedade deste mundo e nos fazem ansiar para escaparmos, para nos
libertarmos. (VII. 69, 79)
DA SOLIDÃO PARA A SOCIEDADE
Swamiji: Shankara deixou esta filosofia Advaita (não
dualística) nas montanhas e florestas, enquanto eu vim para retirá-la daqueles
lugares e espalhá-la pelo mundo do trabalho e pela sociedade. O urro do leão da Advaita deve ressoar em
cada lar, nos prados e vales, sobre as montanhas e planícies. Venham todos
auxiliar-me e comecem a trabalhar.
Discípulo: Senhor, a mim me agrada mais alcançar aquele
estado através da meditação do que manifestá-lo pela ação.
Swamiji: Este não é senão um estado de estupefação,
como o produzido pelo álcool. De que
servirá permanecer, meramente, nesse estado?
Pressionado pela ânsia da realização da Advaita, você terá, às vezes, de
dançar freneticamente e às vezes ficará alheio aos sentidos exteriores. A gente se sente feliz ao saborear uma coisa
boa, isoladamente? Devemos
compartilhá-la com os outros!
Admitindo-se que você alcançou a libertação pessoal através da
realização do Advaita, que vantagem haverá para o mundo? Você deve libertar o universo inteiro antes
de abandonar seu corpo físico. Somente
então você se identificará com a Verdade Eterna. Há algo que se compare a essa bênção, meu
rapaz? (VII. 162-63)
QUEM PODE CONHECER O CONHECEDOR?
Discípulo: Se eu sou Brahman, por que não tenho sempre
consciência disso?
Swamiji: Afim de alcançar essa realização no plano
consciente, algum instrumento se faz necessário. A mente é esse instrumento em nós. Mas é uma substância não inteligente. Ela somente parece ser inteligente pela luz
do Atman que está atrás dela. Portanto,
é certo que você não será capaz de conhecer o Atman, a Essência da
Inteligência, através da mente. Você
terá de ir além da mente. O fato real é
que existe um estado além do plano
consciente, onde não há dualidade entre o conhecedor, o conhecimento e o
instrumento do conhecimento, etc. Quando a mente mergulha profundamente, esse
estado é percebido. A linguagem não pode exprimir esse estado. (VII. 141-42)
O QUE
EXISTE ALÉM?
Os
processos da evolução, combinações cada vez mais elevadas, não existem na
alma; ela já é o que é.
Eles estão na natureza. Suponha que aqui existe um biombo e que
atrás dele há um belo cenário. Há um pequeno furo no biombo através do qual podemos somente
captar pequena parte do cenário que fica
por detrás. `A medida em que o
furo aumentar de tamanho, cada vez mais
descortinaremos a cena
escondida; e quando o
biombo todo desaparecer não haverá nada mais entre você e o cenário; você o
verá em sua totalidade. Este biombo é a mente
do homem. Atrás dela se esconde a majestade,
a pureza, o infinito poder da alma, e quanto mais a mente se tornar clara e pura, tanto mais se manifestará a majestade da alma. Não é que
a alma se modifique, mas a
mudança é no biombo. A alma é a Unidade Imutável, a imortal, a
pura, a sempre-abençoada Unidade. (VI.
24)
SEJA A
TESTEMUNHA
Diga, quando a mão do tirano agarrar seu pescoço:
"Eu sou a Testemunha! Eu
sou a Testemunha!" Diga: "Eu
sou o Espírito! Nada do exterior
pode tocar-me." Quando
maus pensamentos surgirem, repita isto, dê-lhes uma pancada na cabeça: "Eu sou o Espírito! Eu sou a Testemunha, o Abençoado para
sempre! Não há razão
para que eu faça coisa
alguma, não há razão
para que eu sofra, estou farto de
tudo, eu sou a Testemunha. Estou
na minha galeria de quadros - este universo é o meu museu, somente olho
essa sucessão de pinturas.
Todas são belas, sejam
boas ou más.
Eu admiro a maravilhosa habilidade, mas é tudo uma
coisa só. As infinitas chamas do Grande
Pintor!" (V. 254)
NÓS
QUEREMOS DEUS?
Perguntemo-nos todos os dias: "Queremos Deus?" Quando começamos a falar de religião e,
especialmente, quando assumimos
uma posição mais elevada e
começamos a ensinar aos outros, devemos
nos fazer a mesma pergunta. Às vezes, eu acho que não quero Deus, que quero
mais pão. Quase fico louco se não consigo uma fatia
de pão; muitas senhoras ficarão doidas se não
conseguirem um broche de diamante, mas não
têm o mesmo desejo em relação a Deus; elas não conhecem a única Realidade que
existe no universo. Em nossa língua há um provérbio: se eu quiser virar um caçador, caçarei
rinocerontes; se eu
quiser virar ladrão, roubarei o
tesouro do rei. Qual a vantagem de roubar
mendigos ou caçar formigas?
Assim, se você quiser amar, ame a
Deus. (IV. 20)
A ALMA
E SUA ESCRAVIDÃO
Nós somos
o Ser Infinito do universo e ficamos materializados nesses seres
pequeninos, homens e mulheres, que dependem da palavra doce de um homem, ou da
palavra irada de um outro e assim por diante.
Que dependência terrível, que
horrível escravidão! Se você
belisca meu corpo, sinto dor.
Se alguém diz uma palavra carinhosa, fico alegre. Veja minha condição - escravo do corpo, escravo da mente,
escravo do mundo, escravo de uma boa palavra, escravo de uma
palavra má, escravo da paixão, escravo
da felicidade, escravo da morte, escravo de tudo!
Esta escravidão tem de
ser rompida. Como?
Pense sempre: "Eu sou
Brahman."
Assim, qual
é a meditação
do Jnana (seguidor do
caminho do conhecimento)? Ele quer erguer-se acima de qualquer idéia
do corpo ou da mente,
varrer a idéia que é o
corpo físico. Para que embelezar
o corpo? Para gozar mais uma vez a ilusão? Para continuar a escravidão?
Deixe passar, eu não sou o corpo. Esta é
a atitude do Jnana. O Bhakta diz: "O Senhor deu-me
este corpo para que eu
possa atravessar, com segurança,
o oceano da vida e devo cuidar dele até que a jornada
acabe." O Iogue diz:
"Devo ser cuidadoso com
o corpo afim de que possa prosseguir com firmeza para alcançar, finalmente, a
libertação." (III. 25, 27-28)
É TUDO
UMA BRINCADEIRA
É
tudo uma encenação. Represente! O Deus Todo
Poderoso representa. Você é o
Deus Todo Poderoso atuando
no palco. Se você
quiser representar e fazer
o papel de um mendigo, ninguém será responsável por
fazer tal escolha. Você gosta de ser o
mendigo. Você sabe que sua natureza real
é divina. Você é rei e finge que é um mendigo.
É tudo uma brincadeira. Saiba
disso e
represente. Tudo que existe
é uma farsa. Represente então. O universo inteiro é uma vasta encenação. Tudo é bom porque é uma brincadeira.
Quando
eu era menino, alguém me disse que Deus
observa tudo. Quando ia dormir eu olhava para
cima e ficava esperando que o teto
fosse se abrir. Nada acontecia. Ninguém
está nos observando, exceto nós
mesmos. Nenhum Senhor, exceto nosso próprio Eu.
Não
sofra! Não se arrependa! O que
está feito, está feito. Se você
se queimar, agüente as conseqüências.
Sejam sensatos.
Nós cometemos erros; e daí? É tudo uma brincadeira. As pessoas ficam loucas com seus pecados
passados, lamentam-se e choram e assim por diante. Não se
arrependam! Após fazer um trabalho, não pensem mais nele.
Prossigam! Não parem! Não olhem para trás! O que irão ganhar olhando para trás?
Aquele que sabe que é livre está
livre; aquele que
sabe que está escravizado,
está escravizado. Qual é o fim e
o objetivo da vida?
Nenhum, pois eu sei que sou o
Infinito. Se vocês são mendigos,
podem ter metas. Eu não tenho metas,
desejos ou propósitos. Eu vim até
seu país e
dou conferências -
só por brincadeira. (II. 470-71)
UM
SALMO DA VIDA
No
gozo existe o medo da doença,
No nascimento
opulento, o medo de perder
a casta,
Na
riqueza, o medo dos tiranos,
Na
honra, o medo de perdê-la,
Na
força, o medo dos inimigos,
Na
beleza, o medo da velhice,
No
conhecimento, o medo da derrota,
Na
virtude, o medo do escândalo,
No
corpo, o medo da morte.
Nesta
vida tudo é cercado de medo:
Somente
a renúncia é destemida.
(Em
Busca de Deus e Outros Poemas, pág. 81)
ENTERRE
O PASSADO
Se
eu ensinasse a vocês que sua natureza é má,
que vocês deveriam ir para
casa para se assentarem sobre cinzas e um saco de
aniagem e chorarem amargamente porque
deram alguns passos em falso, isto não
ajudaria a vocês, mas iria enfraquecê-los ainda
mais e eu estaria lhes mostrando mais a estrada para o mal do
que para o bem. Se
este quarto estivesse cheio
de trevas há milhares de anos e vocês chegassem e começassem
a soluçar e
chorar balbuciando: "Oh!
escuridão!", as trevas
desapareceriam? Risquem um
pau de fósforo
e a luz
chega instantaneamente. De que
serviria para vocês pensarem durante
toda a vida: "Oh, eu fiz
coisas más, cometi
muitos erros"? Não
é preciso um fantasma
para nos dizer
isto. Tragam a luz e o mal
desaparece subitamente. Edifiquem
seus caracteres e
manifestem sua natureza real, a
Efulgente, a Resplandecente, a Sempre-Pura
e A reconheçam em qualquer pessoa
que olharem. (II. 357)
O
TAJ-MAHAL DOS TEMPLOS
O Deus-Vivo
está dentro de
vocês e, contudo, vocês constróem igrejas e templos
e acreditam em muitas coisas
absurdas. O único Deus
que deve ser adorado está na
alma que reside no corpo
humano. Naturalmente, todos os
animais são, também, templos, mas o
homem é o mais elevado, o Taj-Mahal dos
templos. Se não consigo
fazer adoração dentro deste
templo, nenhum outro templo será de utilidade. Quando eu
tiver alcançado Deus dentro
do templo de cada ser humano, quando eu ficar em reverência diante de cada ser humano e nele
enxergar Deus - nesse momento estarei livre da
escravidão, tudo que me prende se desatará e eu
estarei livre. (II. 321)
O
SENHOR É SEU
Você tem
sentimento pelos outros?
Se tiver, você estará caminhando
para a unidade. Se
você não sentir pelos outros,
você poderá ser o maior gigante
intelectual que já nasceu, mas não será nada; você não será mais do que inteligência seca e assim ficará para sempre.
Mas, se você sentir, mesmo não
podendo ler nenhum livro, nem falar nenhum idioma, estará no caminho certo. O Senhor será seu.
Você não
sabe, através da história
do mundo, onde estava o poder dos profetas? Onde estava
ele? No intelecto?
Algum deles escreveu um esplêndido livro sobre filosofia, sobre os mais complexos
raciocínios da lógica? Nenhum
deles. Eles somente
falaram poucas palavras. Sinta
como Cristo e você será um Cristo;
sinta como Buda e você será um
Buda. É o
sentimento que é a
vida, a força,
a vitalidade, sem a qual quantidade alguma
de atividade intelectual poderá alcançar Deus. É através do coração que o Senhor é visto,
e não através do intelecto. (II. 307, 306)
NINGUÉM
É CULPADO
Não culpem
a ninguém por suas próprias faltas, sustenham-se sobre seus
próprios pés e assumam toda a
responsabilidade sobre vocês mesmos. Digam:
"Este sofrimento que estou padecendo foi
causado por mim mesmo e isto
prova que terá de ser desfeito por mim
mesmo." Aquilo que criei posso destruir; aquilo
que foi criado por outra
pessoa, não conseguirei nunca destruir.
Por isso, fique de pé, seja forte,
seja valente. Tome
toda a responsabilidade sobre seus próprios ombros e saiba
que você é o criador
de seu próprio destino. Toda
a força e auxílio
que você precisa, Estão dentro de
você mesmo. Portanto, crie o seu
próprio futuro. "Que o passado
morto enterre seus mortos." O
futuro infinito está diante de vocês e vocês devem sempre se lembrar
que cada palavra, pensamento
e atos, são armazenados
para vocês e, assim como os maus
pensamentos e más ações
estarão prontos para saltar
sobre vocês como
tigres, assim também há a esperança inspiradora de que os
bons pensamentos e
as boas ações
estarão prontos, com o poder de cem mil anjos,
para defendê-los, sempre e para todo o sempre. (II. 225)
O
MUNDO: NEM BOM, NEM MAU
Se a
milionésima parte dos
homens e mulheres que
vivem neste mundo simplesmente sentassem e
dissessem por alguns
minutos: "Vocês todos são
Deuses, Oh! homens, animais e seres vivos, todos vocês são manifestações da Única
Divindade Viva!", o mundo
todo seria modificado em
meia hora. Em vez de lançar horrendas bombas de ódio em cada
canto, em vez de projetar
correntes de ciúme
e maus pensamentos, em
cada país as
pessoas irão pensar que Ele está
em tudo. Tudo que você vê ou sente é Ele. Como pode você enxergar o mal sem haver o mal dentro de você? Como pode você ver o
ladrão, a menos que
ele esteja lá, sentado no interior de seu coração? Como ver o assassino, a
menos que você seja o
próprio assassino? Seja bom e o mal
esvanecerá. E assim o universo
inteiro será modificado.
Eis outra coisa para ser aprendida. Não podemos,
possivelmente, vencer tudo que
nos rodeia objetivamente. Não
podemos. O peixinho quer fugir de seus
inimigos dentro d’água. Como pode
fazê-lo? Desenvolvendo asas e
tornando-se um passarinho. O peixe não modificou nem a
água, nem o
ar; a modificação
foi em si próprio.
A mudança é
sempre subjetiva. Através de toda a Evolução você verifica que a conquista
da natureza vem
pela mudança do indivíduo.
Aplique este raciocínio à
religião e à moral e verificará
que a vitória sobre o mal
somente acontece pela
modificação do subjetivo. É deste modo que o sistema Advaita obtém
toda sua força, no lado subjetivo do homem.
Falar do mal e do sofrimento é
tolice, porque eles não existem do lado de fora.
Posso parecer
ousado ao afirmar que a
única religião que concorda e vai um pouco além das pesquisas
modernas, em ambas as
linhas físicas e morais, é a Advaita, e é por isso que atrai tanto os cientistas modernos. (II.
287, 137-38)
UMA
ALEGORIA
Imagine o Eu como sendo o passageiro,
e este corpo físico como a carruagem, o intelecto o cocheiro, a mente as
rédeas e os sentidos os cavalos. Aquele cujos cavalos são bem domados e cujas rédeas são fortes e bem
manejadas pelas mãos do cocheiro (o intelecto), alcança a meta que
é o estado Dele, o Onipresente.
Mas o homem cujos
cavalos (os sentidos)
não são controlados, nem
as rédeas (a
mente) bem manejadas, caminha
para a destruição. (II. 169)
A
MORALIDADE E A RELIGIÃO
A
religião chega quando aquela verdadeira
realização em nossa própria alma começa.
Isto será a aurora da religião; e
somente então seremos seres morais.
Presentemente, nós não somos mais morais do que os animais. Somente somos contidos pelos chicotes da
sociedade. Se a sociedade nos dissesse, hoje: "Não
punirei você, se furtar", nós
avançaríamos na propriedade dos outros.
É o policial que nos torna seres
morais. É a opinião social que nos faz morais
e, realmente, somos um pouco melhores que
os animais. Compreendemos o quanto
disso é verdade no íntimo
de nossos corações. Assim, não sejamos hipócritas.
Esta é a
palavra de ordem da Vedanta - realize
a religião, não adianta nada
falar. Mas isto só se faz com
grande dificuldade. Ele escondeu-se dentro do átomo, este Antigo
Ser que mora no mais íntimo recesso de cada coração humano. Os
sábios realizaram-No através do poder de introspecção. (II. 164-65)
VEJA
DEUS EM TUDO
Desde minha infância sempre ouvi dizer a respeito
de ver Deus em todo lugar e em
todas as coisas quando então eu poderia
realmente desfrutar o mundo, mas tão logo me misturo nele e dele recebo
alguns golpes, a idéia se desfaz. Estou
andando na rua, refletindo que Deus está
em todos os homens, quando um grandalhão surge, tromba em mim e eu me esborracho na
calçada. Então me
ergo rapidamente com
os punhos cerrados, o
sangue sobe-me à
cabeça e o pensamento some.
Instantaneamente, fiquei louco
de raiva. Tudo foi esquecido; em vez de encontrar Deus,
eu vi o demônio. Desde que nascemos,
disseram-nos para ver Deus em
tudo. Toda religião
nos ensina para ver a Deus em todas as coisas e lugares.
Não importam os erros; essas falhas
são totalmente naturais, são a
beleza da vida. O que seria da vida sem elas? A vida não
teria valor se não houvesse as lutas.
Onde estaria a poesia da vida?
Não importam as lutas,
os erros. Nunca ouvi uma vaca
dizer uma mentira, mas é
somente uma vaca -
nunca um homem.
Assim, não importam
essas falhas, esses pequenos deslizes; apegue-se ao ideal por mil vezes
e, se você falhar por mil vezes,
faça ainda mais uma
tentativa. O ideal do homem é ver a Deus em tudo. (II. 151-52)
EM
DIREÇÃO À META SUPREMA
Se
o homem mergulhou de cabeça nos fúteis
luxos do
mundo, sem conhecer a verdade, ele perdeu
a caminhada, não pôde alcançar a
meta. E se um
homem amaldiçoa o mundo, penetra na floresta, mortifica sua carne e se mata
pouco a pouco pela fome, desperdiça seu
coração, mata todos os sentimentos e torna-se
empedernido, duro e seco,
este homem também perdeu
sua jornada. Esses são os dois
extremos, os dois erros de cada lado. Ambos perderam o caminho, ambos perderam o alvo.
Infelizmente,
nesta vida, a grande maioria das pessoas
está se arrastando através desta vida de trevas, sem nenhum ideal. Se um
homem que tem um ideal comete mil erros, estou certo de
que o outro sem ideal cometerá
cinqüenta mil. Portanto, é
melhor ter um ideal.
E devemos dar ouvidos
a este ideal o
máximo possível, até que ele penetre em nosso cérebro, em nossas
próprias veias, até que se misture a
cada gota de nosso sangue. Devemos
meditar sobre isto. "A boca
fala através da plenitude do coração" e pela plenitude do coração
a mão também trabalha. (II. 150, 152)
O QUE
NOS FAZ SOFRER?
A
causa de todas as angústias que sofremos é o desejo. Você deseja algo e o desejo não se
cumpre; e o resultado é o sofrimento. Se não
houver desejo, não
haverá sofrimento. Mas também
aqui há o
risco de eu
ser mal compreendido. Assim,
é necessário que
eu explique qual o significado de renunciar
ao desejo e de
tornar-se liberto de
todo sofrimento. As paredes não
têm desejos e nunca sofrem. É verdade,
porém nunca evoluem. Esta cadeira não tem desejos e nunca sofre; mas é
sempre uma cadeira. Há glória na
felicidade, há também glória no sofrimento.
Quanto
a mim, estou contente por ter feito algumas
coisas boas e
muitas coisas más;
contente por ter feito algo de
bom e contente por ter cometido muitos erros, porque cada um deles foi uma grande lição. E o que sou
agora é o resultado de tudo o que
fiz, de tudo que pensei.
Cada ação e pensamento tem seu
efeito e esses efeitos
são a soma
total do meu progresso.
A
solução é esta: não que eu não deva ter
propriedades, não que eu não deva ter
coisas que são necessárias e coisas que
constituam mesmo um luxo. Tenha tudo que quiser e mesmo mais,
porém conheça a verdade e a realize.
A riqueza não pertence a
ninguém. Não tenha idéias
sobre propriedades e
posses. Tudo pertence ao
Senhor. (II. 147-48)
A
QUINTESSÊNCIA DA VEDANTA
Aqui
posso somente explicar-lhes que o que a
Vedanta busca ensinar é a
divinização do mundo. Em
verdade, a Vedanta não
acusa o mundo. Em
lugar algum o ideal da
renúncia atinge tal altura como
nos ensinamentos da Vedanta.
Mas, ao mesmo
tempo, não há a
intenção de se dar um seco conselho
para o suicídio; o
ideal realmente quer
dizer divinização do mundo - renunciar ao mundo como o
imaginamos, como o
conhecemos, como ele aparece
para nós -
e saber o que
ele efetivamente é. Divinize-o;
ele é Deus somente. Lemos
no início de
um dos mais antigos dos Upanishads: "Tudo que existe neste universo deve ser
coberto por Deus".
Devemos ver
tudo coberto pelo
Próprio Deus, não por uma falsa
espécie de otimismo, não tornando nossos olhos cegos
para o mal, mas realmente enxergando
Deus em todas as coisas. Temos
assim de renunciar ao mundo,
e, quando renunciamos ao mundo, o que resta? Deus.
O que isto quer dizer? Você pode
ter sua esposa; não significa que você deva abandoná-la,
mas que você deve ver Deus
nela. Renuncie a seus filhos;
o que significa isto?
Expulsá-los porta afora, como alguns brutos o fazem,
em muitos países? Certamente
não. Mas veja Deus em seus filhos.
E também assim, em tudo. Na vida
e na morte, na felicidade e no infortúnio, o
Senhor está igualmente
presente. O mundo todo
está pleno do Senhor. Abra seus
olhos e veja-O. Eis o que a Vedanta ensina.
Em verdade,
uma tremenda afirmação!
Contudo, este é o
tema que a Vedanta
quer demonstrar, ensinar e pregar.
(II. 146-47)
POR
QUE CHORAIS, MEU AMIGO?
"Por que chorais, meu amigo? Não há
nem nascimento nem morte
para vós! Por
que chorais? Não há doçura nem
sofrimento para vós, mas sois o
céu infinito; nuvens de várias
cores vêm sobre ele, brincam por um
momento e se esvaem.
Mas o céu conserva sempre o mesmo
azul eterno." Por que enxergamos a malvadez?
Havia um toco de árvore e, na escuridão,
um ladrão se aproximou e
disse: "É um policial". Um
jovem que esperava por sua amada olhou-o
e pensou que fosse sua namorada.
Um menino, que ouvia estórias
de fantasmas, tomou-o por um fantasma e começou a tremer. Mas, durante todo esse tempo, era somente um tronco de
árvore. Vemos o mundo da maneira
que somos.
Não fale da malvadez do mundo e de todos os
seus pecados. Chore
porque você está inclinado a ver o pecado por todo lugar e, se quiser
ajudar o mundo, não o condene. Não o enfraqueça ainda mais. O que é o pecado, o que é o
sofrimento, o que
são ambos senão resultados da fraqueza? O mundo a cada dia se enfraquece
por tais ensinamentos. Desde
a infância ensinam aos homens que eles são fracos e pecadores.
Ensine a eles que
são todos filhos gloriosos
da imortalidade, mesmo
a aqueles que são,
manifestamente, os mais fracos.
Que os pensamentos fortes,
positivos, os que ajudam, entrem em seus cérebros desde a mais tenra infância. (II. 86-87)
A
ARMADILHA DE MAYA
Certa
vez, Narada (um grande sábio) disse
a Krishna: "Senhor, mostre-me Maya
(Ilusão Cósmica)". Alguns
dias se passaram e Krishna convidou
Narada para um passeio pelo deserto e, depois
de andarem algumas
milhas, Krishna disse: "Narada, estou com sede; você
pode trazer-me um pouco
d'água?" "Partirei
imediatamente, senhor, para buscar
sua água." Assim, Narada partiu.
Não
muito longe havia uma aldeia; entrou
nela à procura de água e bateu numa porta,
que foi aberta por uma linda
mocinha. Ao vê-la, ele se esqueceu, imediatamente, que
seu Mestre esperava pela água, talvez morrendo de
sede. Esqueceu tudo e começou a
conversar com a moça. Decorrido o dia
todo, ele não voltou ao seu Mestre.
No dia seguinte, lá estava ele de novo a conversar
com a mocinha.
A conversa transformou-se em
amor; ele pediu a garota em casamento
e eles se casaram e tiveram
filhos. Passaram-se assim doze
anos. Seu sogro faleceu e ele
herdou sua propriedade. Vivia,
como pensava, uma vida muito feliz com sua esposa e filhos,
com seus campos e o gado e
assim por diante. Então, houve
uma enchente. Certa noite, o rio encheu-se
até transbordar e inundar toda a
aldeia. As casas caíram,
homens e animais foram arrastados e afogados e tudo
flutuava na violência da torrente.
Narada teve de fugir. Com
uma das mãos segurava sua mulher e
com a outra dois de seus
filhos; outro filho estava em seus ombros e ele tentava
atravessar aquela tremenda inundação.
Após dar alguns passos, viu
que a corrente estava forte demais
e a criança que estava em seus ombros caiu e foi
carregada pelas águas. Narada soltou
um grito de desespero.
Ao tentar salvar a
criança, largou uma das outras,
que também se perdeu.
Finalmente, sua mulher, que
ele agarrara com toda sua força, foi arrebatada pela
torrente e ele foi
arremessado às margens, chorando
e soluçando com amargas lamentações.
Atrás
dele surgiu uma voz delicada: "Meu
filho, onde está a água? Você foi
procurar um bocado d’água e estou esperando por você.
Já faz meia-hora que você partiu."
"Meia-hora!", exclamou
Narada. Doze anos tinham se passado em sua mente e todas essas cenas
aconteceram em meia hora! É isto que é
Maya. (II. 120-21)
A VIDA
INSPIRA A VIDA
Chega
um homem; você sabe que ele é muito
instruído, sua linguagem é bela e ele lhe
fala por muito tempo;
mas não lhe causa nenhuma impressão. Vem
outro homem, fala
poucas palavras, não bem
arrumadas, talvez ferindo a
gramática; contudo, causa-lhe ótima
impressão. Muitos de vocês já viram
isto. Assim torna-se evidente que
somente as palavras não
podem sempre produzir boa
impressão. As palavras e mesmo os pensamentos contribuem somente com
uma terça parte para causarem boa impressão e o
homem, com dois terços. O que vocês
chamam de magnetismo pessoal do homem -
é isto que sai e impressiona a vocês.
Voltando aos grandes
líderes da humanidade, sempre
verificamos que foi a
personalidade do homem
que valeu. Agora, considere todos os grandes autores
do passado, os grandes
pensadores. Falando realmente, quantos pensamentos pensaram eles? Considere todos os escritos que nos foram
deixados pelos antigos líderes da raça
humana; pegue cada um de
seus livros e os avalie. Os
pensamentos reais, novos e
genuínos, que foram elaborados neste mundo até hoje não enchem uma de nossas mãos.
Leia em seus livros os pensamentos
que nos deixaram. Os autores não
nos aparecem como gigantes e, contudo, sabemos que foram gigantes no seu
tempo. O que
os fez assim?
Não simplesmente os pensamentos
que emitiram, nem os livros que
escreveram, nem os discursos que
fizeram, era algo mais que agora se
perdeu, isto é, sua
personalidade. Como eu
já comentei, a personalidade do
homem representa dois terços
e seu intelecto, suas palavras, somente um
terço. É o
homem real, a personalidade do homem, que
nos impressiona. (II. 14-15)
AUDÁCIA
ESPIRITUAL
Na
Rebelião de 1857 (o primeiro movimento
de libertação da
Índia) havia um
Swami, verdadeiramente uma grande alma,
a quem um rebelde
maometano apunhalou gravemente.
Os rebeldes hindus capturaram-no e levaram o homem até o Swami, dizendo que
o poderiam matar. Mas o Swami
olhou para ele calmamente e
disse: "Meu irmão, tu és
Ele, tu és Ele" e expirou.
Ergam-se, homens
e mulheres, com
este mesmo espírito, atrevam-se
a acreditar na Verdade,
atrevam-se a praticar a Verdade. O mundo necessita de algumas centenas de
homens e mulheres audazes. Pratiquem
aquela audácia que se atreve a conhecer a Verdade, que se atreve a mostrar a
Verdade na vida, que não treme diante da morte e em vez disso a saúda, aquela
audácia que faz o homem saber que ele é
o Espírito e que,
em todo o universo, nada pode
matá-lo. então vocês estarão
libertos. então conhecerão Sua Alma Real.
"Este Atman deve ser
primeiro ouvido, depois cogitado
em nossos pensamentos e, afinal, submetido
à meditações." (II. 85)
UM FIO
DE PALHA
Em alguns moinhos de óleo na Índia, bois são usados para andarem circularmente
moendo as sementes que darão o óleo.
Há uma cangalha sobre o pescoço do boi. Há uma peça de madeira que se projeta da cangalha, onde é fixado
um fio de palha. Os olhos do boi são tapados de tal
maneira que pode enxergar somente a
palha na frente e, assim, estica seu pescoço
para pegar a palha; ao fazer
isso, ele movimenta um pouco o moinho
de madeira; e
faz outra tentativa com o mesmo
resultado, e ainda outra tentativa e assim sucessivamente. Ele
nunca pega a palha, mas vai rodando e
rodando na esperança de
pegá-la e, ao
fazê-lo, acaba moendo o
óleo. Da mesma forma, você e eu nascemos
escravos da natureza, do
dinheiro e das riquezas,
das esposas e dos
filhos, e estamos sempre
perseguindo um fio de palha, uma mera quimera e iremos atravessar uma
inumerável ronda de vidas sem obtermos o que buscamos.
Tal é a
história da vida de cada um de nós;
tal é o tremendo poder da natureza
sobre nós. Ela está sempre nos
repelindo para longe, mas, ainda assim, a
perseguimos com febril excitação. (I. 408-409)
O AMOR
DURA PARA SEMPRE
Diga dia e
noite: "Vós sois
meu pai, minha mãe, meu marido, meu amor, meu
senhor, meu Deus - não quero nada além de Vós,
nada além de Vós, nada além de Vós."
A riqueza passa, a
beleza se esvanece, a vida voa, os poderes voam - mas o Senhor dura para
sempre, o amor dura para sempre.
Apegue-se a
Deus! O que importa o que
acontece com o corpo ou
com qualquer outra coisa!
Através dos terrores do mal, diga:
Meu Deus, meu amor!
Através dos sofrimentos da morte,
diga: Meu Deus, meu amor! Através
de todos os males, sob o sol,
diga: Meu Deus, meu amor!
Esta vida é uma grande chance. Por
que procurais os prazeres do mundo?
Ele é a fonte de toda bem-aventurança. Busque o mais
alto, vise o mais elevado e você irá alcançar o mais alto.
(VI. 262)
O
HOMEM, FAZEDOR DE SEU DESTINO
Os homens
fracos, quando perdem tudo e sentem-se enfraquecidos, tentam toda
espécie de disparatados métodos de
fazer dinheiro e inclinam-se para a astrologia e todo tipo
de coisas. "São o tolo e o
covarde que dizem: "É o
destino". Mas é o homem forte que
se ergue e diz: "Farei o meu
destino".
Há uma velha estória sobre um
astrólogo que veio até um rei e disse: "O
senhor irá morrer em seis
meses". O rei ficou fora de si,
completamente aterrorizado e estava
quase a morrer de medo. Mas seu ministro era um homem inteligente e disse ao rei que os
astrólogos eram tolos. Mas o rei não acreditava
nele. Assim, o ministro viu que o
único jeito do rei ver que eles eram
tolos era convidar de novo o
astrólogo. Lá, ele
perguntou-lhe se seus cálculos estavam corretos. O astrólogo
disse que não havia erro nenhum, mas, para satisfazê-lo, refez todos os
cálculos e disse que estavam perfeitamente
certos. A face do rei ficou lívida. O
ministro então perguntou
ao astrólogo: "E quando
você pensa que
irá morrer?"
"Dentro de doze
anos", foi a resposta.
O ministro rapidamente puxou
sua espada, separou a cabeça do
astrólogo de seu corpo
e disse ao rei:
"O senhor vê
este mentiroso? Ele acaba
de morrer, neste momento." (VIII, 184-85)
O
EVANGELHO DO DESTEMOR
O que
faz a diferença entre Deus e o homem,
entre o santo e o pecador?
Somente a ignorância. Qual é a diferença entre o homem mais
elevado e o verme mais
inferior que se arrasta
sob seus pés? A ignorância. Esta faz toda
a diferença. A
divindade infinita é imanifesta;
ela terá de ser manifestada. Isto
é a espiritualidade, a ciência da alma.
A força é o bem, a fraqueza é o
pecado. Se existe uma palavra que
sai como uma bomba de dentro dos Upanishads, que se despedaça como a cápsula
de uma bomba
sobre as massas
da ignorância, esta palavra é destemor.
E a única religião que deveria ser ensinada é a religião do destemor. É o medo que traz o sofrimento, o medo que
traz a morte, é o medo que alimenta o
mal. E o que causa o medo? A
ignorância de nossa própria
natureza.
Não desespere.
Pois você é o mesmo
a despeito do que faça e você não pode mudar sua natureza.
A própria natureza não pode destruir a
natureza. Sua natureza é pura. Pode
estar escondida por milhões
de eras, mas,
finalmente, vencerá e virá para fora.
Por isso a Advaita traz a esperança para cada um e não o desespero. Seu ensinamento não é feito através do medo;
ela ensina, não sobre demônios que Estão
sempre à espreita para arrebatá-lo
se você falsear sua caminhada - ela não tem nada a haver com demônios - mas diz que você tem seu destino
em suas próprias mãos. Seu
próprio Karma (ação) manufaturou para você este corpo e ninguém mais
o fez para
você. E toda a
responsabilidade pelo bem e o mal está em você.
Esta é a grande esperança. O que
eu fiz, posso desfazer. (III. 159-61)
A
NECESSIDADE DE UM GURU
A alma somente pode receber impulsos
de outra alma e de
nenhuma outra coisa
mais. Podemos estudar em livros durante toda
nossa vida, podemos nos
tornar muito intelectuais, mas, no fim, verificamos que
não desenvolvemos nenhuma espiritualidade absolutamente. Não é
verdadeiro que um alto nível de desenvolvimento intelectual seja
sempre acompanhado de um
desenvolvimento proporcional do lado espiritual do Homem. Ao estudar nos livros, algumas vezes nos iludimos
ao pensar que por isso estamos sendo espiritualmente ajudados;
mas, se analisarmos o efeito do
estudo em livros sobre nós, iremos
verificar que, no máximo, é somente nosso
intelecto que tira
proveito desses estudos e não nosso espírito interior.
Esta incapacidade dos livros
de acelerarem o crescimento espiritual
é a razão pela qual, embora
quase todos nós
possamos falar brilhantemente sobre
assuntos espirituais, quando
chega a hora de agir e de viver uma vida verdadeiramente espiritual,
nos sentimos tremendamente deficientes.
Para acelerar o espírito, o impulso deve vir de outra alma.
A pessoa de cuja alma vem tal impulso
é chamada Guru - o instrutor; e a
pessoa para cuja alma o
impulso é dirigido é denominada Shishya - o estudante. (III. 45)
AS
QUALIFICAÇÕES DO ESTUDANTE
Três coisas são necessárias ao estudante que quer ter sucesso:
Primeira:
Desista de todas as idéias de
prazer neste mundo e no próximo, pense
somente em Deus e
na Verdade. Estamos
aqui para conhecer a verdade e
não para o prazer. Deixe-o para os brutos que sabem desfrutá-los
como nunca poderíamos. O homem é
um ser pensante e deve continuar lutando
até vencer a morte, até enxergar a
luz. Não deve
desgastar-se em conversas inúteis que não produzem frutos. O culto
da sociedade e da
opinião popular é idolatria.
A alma não tem sexo, país, não
tem tempo nem lugar.
Segunda:
O intenso desejo de conhecer a
Verdade e Deus. Seja ávido por eles, precise deles da mesma forma que um homem que
se afoga precisa do ar. Queira somente Deus, não aceite nenhuma outra coisa, não deixe que o
"parece que" o engane mais.
Dê as costas a tudo e
busque somente Deus.
Terceira:
são os seis treinamentos:
1º) Evitar que a mente vá para fora.
2º) Controlar os sentidos.
3º) Voltar a mente para dentro.
4º) Sofrer tudo sem murmurar.
5º) Focalizar
a mente em uma só idéia. Escolha o objeto diante de você e
discrimine-o; nunca o deixe. Não ligue para o tempo.
6º) Pense
constantemente em sua
real natureza. Livre-se das superstições. Não se
hipnotize acreditando em
sua própria inferioridade. Dia e noite diga a você mesmo quem
você realmente é,
até que constate, constate realmente, sua identidade com
Deus. (VIII. 37)
ESTAMOS
APTOS PARA O PARAÍSO?
Algumas pobres
vendedoras de peixe, surpreendidas por
violenta tempestade, se abrigaram
no jardim de um homem rico.
Ele as recebeu bondosamente, deu-lhes
alimento e deixou-as descansarem
numa casa de
verão, rodeada de belas flores
que enchiam o ar com seus
ricos perfumes. As mulheres deitaram-se nesse paraíso
de doce fragrância,
mas não conseguiram dormir. Faltava-lhes algo para se sentirem
felizes e não podiam ser felizes
sem isto. Finalmente, uma das
mulheres levantou-se e dirigiu-se ao lugar onde tinham deixado suas cestas
de peixes, trouxe-as para a
casa de verão, e então, de novo felizes com o
cheiro costumeiro, elas logo caíram em profundo sono.
(VIII. 29)
TRANSFORMAMO-NOS
NO QUE PENSAMOS
O pensamento é de toda importância, pois "nos transformamos no que
pensamos".
Era
uma vez um Sannyasin, um homem santo, que,
assentado debaixo de uma árvore,
ensinava às pessoas. Bebia
leite e comia
somente frutas, executava intermináveis "Pranayamas" e considerava-se muito santo.
Na mesma aldeia morava uma mulher de má
vida. Todo dia
o Sannyasin a
censurava, advertindo-a que seu comportamento a levaria ao inferno. A pobre mulher, incapaz de modificar seu
método de vida, que era seu único meio
de subsistência, ficava ainda muito
impressionada pelo terrível
futuro pintado pelo Sannyasin. Ela chorava e rezava ao
Senhor, suplicando-lhe que a perdoasse
porque não podia evitar aquilo.
Com o passar do tempo, o homem santo e a mulher morreram. Os anjos vieram e levaram-na ao céu, enquanto os demônios
reclamaram a alma do Sannyasin.
"Qual a razão
disso?", ele exclamou. "Eu não vivi uma vida muito santa e preguei
a santidade para
todos? Por que deveria eu ser levado ao inferno,
enquanto esta mulher má está
sendo levada para
o céu?" "Porque", responderam os demônios,
"enquanto ela era forçada a cometer atos impuros,
sua mente estava sempre fixada no Senhor e buscava a
libertação, que agora chegou para ela.
Mas você, ao contrário, enquanto executava somente atos
puros, tinha sua mente sempre
fixa na maldade dos outros. Você via somente o pecado e
pensava somente no pecado e, assim,
agora deve ir para o lugar onde há somente o pecado." (VIII. 19-20)
SABOREIE
AS MANGAS
O mundo
todo lê Bíblias,
Vedas e o Alcorão;
mas todos são
somente palavras, sintaxe,
etimologia, filologia, os ossos secos
da religião. O instrutor que cuida muito
de palavras e que
permite que sua mente
seja arrastada pela força
das palavras perde o
espírito. É só o conhecimento do espírito das escrituras que
forma o verdadeiro instrutor espiritual. A rede de palavras das escrituras é
como uma imensa floresta na qual
a mente humana muitas vezes se
perde, não sabendo como sair.
Ramakrishna
costumava contar a estória de
alguns homens que entraram numa plantação
de mangas e se preocuparam em contar as folhas, os ramos e
os galhos, examinando
suas cores, comparando seus tamanhos e anotando tudo
com muito cuidado e depois iniciaram uma
discussão refinada sobre cada um
desses tópicos, que eram,
sem dúvida, muito
interessantes para todos
eles. Mas um deles, mais sensível que os
demais, não se
incomodou com nada disso
e começou a comer
uma manga. E ele
não foi sábio? Assim, deixem esta contagem de folhas, de
raminhos e anotações para os outros.
Este tipo de serviço tem seu
lugar apropriado, mas não aqui, no domínio espiritual. Vocês
nunca encontram um homem
forte espiritualmente, no meio desses "catadores de folhas". (III.
49-50)
APEGUE-SE
A UMA SÓ
Cada seita
de toda religião
apresenta somente um ideal
de sua concepção
para a humanidade, mas a eterna religião da
Vedanta abre à raça
humana um número
infinito de portas para
ingressar no altar
íntimo da divindade e
coloca diante da humanidade
um quase inexaurível conjunto de ideais, existindo em cada um deles uma manifestação da
Unidade Eterna.
Contudo,
a planta tenra que cresce tem de
ser rodeada por uma proteção até que
se torne uma árvore. A planta tenra da espiritualidade irá morrer se for exposta
muito cedo à ação de uma constante
mudança de idéias
e ideais. Muitas
pessoas, em nome do que se pode
chamar de liberalismo religioso,
podem ser vistas alimentando sua
curiosidade vadia com
uma sucessão contínua de
diferentes ideais. Para elas, ouvir
coisas novas é uma
espécie de doença, um tipo de
bebedeira religiosa. Querem escutar
coisas novas só para experimentarem uma temporária excitação
nervosa, e quando
tal influência excitante já
provocou nelas seu efeito, estão prontas para outra. A religião é para essas
pessoas uma espécie
de ópio intelectual e
acaba aí. A Eka-Nishtha,
ou devoção a um
único ideal, é
absolutamente necessária ao
iniciante na prática da devoção
religiosa. (III. 63-64)
A
TRANSFORMAÇÃO DA ENERGIA
A imaginação não casta é tão má quanto a ação
não casta. O desejo controlado leva
ao resultado mais elevado. Transforme a
energia sexual em energia
espiritual, mas não perca a
masculinidade, porque isto é
lançar fora o poder. Quanto mais forte a força,
tanto mais se pode fazer com ela. Somente
uma poderosa corrente de
água pode executar a
mineração hidráulica. (VII. 69)
COMO
SE ILUMINAR
As
almas iluminadas, as grandes almas que
vêm à terra de tempo em tempo, têm o
poder de revelar a Visão Eterna para
nós. Elas já Estão libertas; não ligam para sua própria salvação - querem ajudar aos outros.
Depende
dessas almas livres o crescimento
espiritual da humanidade.
Elas são como os primeiros
lumes que acendem outros lumes.
Em verdade, a luz
está em todos,
mas está escondida em muitos homens. As grandes
almas são luzes que brilham desde o começo. Aqueles que entram
em contato com elas
é como se tivessem suas próprias lâmpadas
acesas. Quando isso acontece, a primeira lâmpada nada perde;
não obstante, ela transmite sua luz para outras lâmpadas. Um milhão de lâmpadas se
acendem; mas a primeira lâmpada continua a brilhar com sua luz que não se acaba. A primeira lâmpada é o Guru e
a lâmpada que por ele é acesa é o
discípulo. (VIII. 115,113)
O
SEGREDO DO CONTROLE
Toda energia
dispendida por um
motivo egoísta é jogada
fora; não provocará energia que
retornará até você;
mas, se for controlada, resultará
em desenvolvimento de energia.
Este auto-controle tenderá a produzir uma vontade poderosa, um caráter
que produz um Cristo ou um Buda.
Os homens tolos não sabem
este segredo; contudo,
querem governar a humanidade.
O homem
ideal é aquele que, no meio do maior
silêncio e solidão, sabe
encontrar a atividade mais intensa e que, no meio da mais intensa
atividade, encontra o silêncio
e a solidão do deserto. Ele aprendeu o segredo do controle, ele auto-controlou-se. (I. 33-34)
MENTE: A
BIBLIOTECA DO UNIVERSO
O conhecimento
é inerente ao
homem. Conhecimento algum
vem de fora; está
todo dentro de nós. Em vez de
dizermos que um homem "sabe",
em estrita linguagem
psicológica, deveríamos dizer "descobre" ou "tira o
véu"; o que um
homem "aprende" é
realmente o que "descobre", ao retirar a tampa de sua própria alma,
a qual é
uma mina de
conhecimento infinito.
Dizemos
que Newton descobriu a gravitação
universal. Estava ela sentada num
cantinho a esperar por ele? Estava na própria mente dele; o
tempo chegou e ele a
descobriu. Todo o conhecimento que o
mundo já recebeu veio da mente;
a infinita biblioteca do universo
está em sua própria mente. (I.
28)
A
GRAÇA E O ESFORÇO PRÓPRIO
Discípulo: Senhor,
existe alguma lei para a graça?
Swamiji: Sim e não.
Discípulo: Como é isso?
Swamiji: Aqueles que
são sempre puros no corpo, na mente e no falar, aqueles
que têm forte devoção, que
sabem distinguir o real do irreal,
que perseveram na meditação
e na contemplação - somente sobre
eles descem as
graças do Senhor. Sri Ramakrishna dizia,
às vezes: "Confiem
Nele; sejam como a folha seca à mercê do vento"; e, de
novo, falava: "O vento de Sua graça
está sempre soprando, o que vocês
precisam fazer é
enfunar suas velas".
Discípulo: Mas
que necessidade tem da graça aquele que pode
auto-controlar-se em pensamento, palavra e ação? Ele não seria capaz de
desenvolver-se no caminho da
espiritualidade por meio de seus próprios méritos?
Swamiji: O Senhor é muito misericordioso com aquele
que vê lutar com o coração e a alma para
a Realização. Mas, fique
ocioso, sem lutar, e você
verá que Sua graça jamais chegará.
Discípulo: Sri Girish Chandra Ghosh certa vez me
disse que não poderia
haver condições na misericórdia de Deus; não haveria nenhuma lei para ela! Se houvesse, não poderíamos mais usar
o termo misericórdia. O reino da
graça ou da misericórdia deve transcender qualquer lei.
Swamiji: Mas deve haver uma lei mais elevada atuando
na esfera mencionada
por C.G., a qual desconhecemos. Estas palavras são, em verdade, para o último estágio de desenvolvimento , o
qual, somente, está além do tempo, do
espaço e da causalidade. Mas, quando
chegamos lá, quem será misericordioso e
para quem, onde já não existe lei
de causalidade? Lá, o adorador e
a coisa adorada, o meditador e o objeto da meditação, o conhecedor e a coisa
conhecida , todos tornam-se unos - chame isto Graça ou Brahman, como você quiser.
É tudo
uma uniforme e homogênea entidade! (VI. 481-82 e V.
398-400)
A META
E OS CAMINHOS
Toda
alma é potencialmente divina.
A meta
é manifestar esta
Divindade interior ao controlar a
natureza, exterior e interior.
Faça
isto seja pelo trabalho, ou adoração, ou
controle psíquico ou pela filosofia
- por um, ou mais, ou todos esses
- e se liberte.
Este
é o todo da religião. Doutrinas, ou dogmas,
rituais ou livros,
ou templos, ou formas não são mais que detalhes
secundários.
"Sim, filhos
da imortalidade, mesmo
aqueles que vivem
na mais alta
esfera, o caminho foi
encontrado; há um caminho fora de todas estas trevas e é o de perceber
Aquele que está além de todas as trevas; não
há outro caminho." (I. 124,128)
MAYA E
LIBERDADE
Que não
sejamos apanhados desta
vez. Tantas vezes Maya nos capturou, tantas
vezes trocamos nossa liberdade por bonecas de açúcar que derreteram quando a água nelas
tocou!
Não se
decepcione. Maya é uma grande trapaça. Vá
embora. Não deixe que
ela o prenda desta vez.
Não venda sua herança sem preço para tais ilusões. Levante-se, desperte, não se detenha até que
a meta seja alcançada.
Guarde seu
dinheiro meramente como uma custódia para aquilo que pertence a
Deus. Não tenha apego
a ele. Que o nome, a fama
e o dinheiro passem; são uma terrível escravidão.
Sinta a maravilhosa atmosfera da
liberdade. Você é livre, livre,
livre! Oh, abençoado sou eu!
Eu sou a liberdade! Eu sou o
Infinito! Em minha alma não
encontro nem começo nem fim. Tudo é o meu Eu. Diga isto, incessantemente.
(Lembranças de Swami
Vivekananda, pág. 185,180)
NÃO
DURMA MAIS
Em
verdade, meu ideal pode ser resumido em poucas palavras, que são: pregar junto à raça humana
sua divindade e como manifestá-la
em cada movimento da vida.
Uma idéia que vejo claramente como a luz do
dia é que o
sofrimento é causado
pela ignorância e nada
mais. Quem dará
luz ao mundo? O
sacrifício foi a Lei no
passado e também o será, ai de
mim, pelos tempos que hão de vir.
Os melhores e os mais corajosos da terra
terão de se
sacrificar pelo bem de
muitos, pelo bem estar de todos. Budas,
aos centos, serão necessários com eterno amor e
piedade.
As religiões
do mundo tornaram-se arremedos sem
vida. O que o mundo
quer é caráter. O
mundo está necessitado daqueles cuja vida é um amor ardente, sem
egoísmo. Este amor fará com que cada palavra ressoe como um raio.
Palavras
audaciosas e ações audaciosas é o que queremos.
Despertem, despertem, grandes do mundo!
O mundo arde em
sofrimento. Vocês podem
dormir? (VII. 498)
H.R.
30.08.1995
Hari Om, Tat Sat Om
Om Tat Sat